A cada quatro anos, durante as Olimpíadas, os avanços da medicina esportiva são
escancarados para quem quiser ver. Eles permitem que os atletas superem suas próprias
marcas e limites. Nos Jogos de Sydney. O
médico especializado em esporte Osmar de Oliveira falou ainda sobre doping e as chances
de medalha dos atletas brasileiros.
Quais são os avanços em medicina esportiva que ficarão
evidentes nessas Olimpíadas?
Osmar de Oliveira - Quase todas as delegações, incluindo
o Brasil, levaram um psicólogo e um especialista em neurolinguística. Essa é a maior
novidade dos Jogos de Sydney. A função desses profissionais é trabalhar o lado
emocional dos atletas, controlar a depressão, a ansiedade e as dificuldades geradas por
uma derrota, por exemplo. No aspecto físico, o principal avanço são os exames
nutricionais, que agora enfocam a preparação individual do atleta. De acordo com a sua
necessidade, ele vai receber uma alimentação mais rica em proteína, sais minerais ou
vitaminas. Outro ponto importante, embora restrito a países desenvolvidos como os Estados
Unidos e a Austrália, é a confecção dos uniformes. Na natação, por exemplo, os
americanos vão utilizar um maiô de corpo inteiro feito com pele de tubarão. Esse
material tem uma resistência à água menor do que a própria pele do corpo humano.
Resultado, o nadador fica mais veloz.
Como isso pode melhorar o desempenho dos atletas?
Oliveira - Aliando o preparo físico ao psicológico, o
rendimento só tende a aumentar. E novos recordes serão quebrados. Mas alguns fatores
devem ser determinantes para a hegemonia dos países desenvolvidos. Um outro exemplo dessa
supremacia é o ciclismo. Os atletas da França, da Itália e da Bélgica tiveram uma
bicicleta desenvolvida especialmente para eles. Elas foram feitas sob medida; variam de
acordo com a altura do corpo e o tamanho da perna dos ciclistas.
Com toda essa sofisticação, os atletas passaram a
conhecer melhor o próprio corpo e os próprios limites. Para buscar a superação, eles
se submetem a uma rotina exaustiva de exercícios físicos. Isso não é prejudicial ao
corpo?
Oliveira - Acredito que não porque também existem exames
capazes de prevenir e detectar lesões provocadas pelo excesso de exercícios, conhecido
como síndrome do supertreinamento. Esse problema causa uma série de alterações
cardíacas, circulatórias e hormonais que podem ser facilmente reveladas por meio de
testes clínicos. Por outro lado, o médico passou a ser mais respeitado e a estar mais
presente na vida do atleta.
As descobertas no campo da medicina esportiva podem
contribuir para o aumento dos casos de doping?
Oliveira - Não, pelo contrário. A medicina esportiva é
uma inibidora da dopagem. As substâncias proibidas chegam aos esportistas por meio de
outros atletas e amigos de academia.
O doping sempre representou um dos maiores problemas para
os organizadores das Olimpíadas, mas o controle aumentou nesses jogos. O sr. acha que
essa fiscalização vai inibir o consumo de substâncias proibidas?
Oliveira - Acredito que vai diminuir bastante. Pela
primeira vez na história, os atletas serão submetidos aos exames antidoping antes e
depois das provas. É importante observar também que cada país realizou um controle
interno antes do embarque para a Austrália. Os que foram pegos tiveram a cara estampada
em todos os jornais. Isso foi vergonhoso para eles. E gerou ainda uma preocupação por
parte dos patrocinadores por causa da exposição da marca nos agasalhos.
O nadador russo Alexander Popov teve sessões de ginástica
rítmica e disse que, com isso, vai ganhar de dois a três metros na largada. Como o sr.
encara o fato de cada vez mais atletas estarem se dedicando a outras atividades esportivas
para aprimorar seu desempenho?
Oliveira - Alguns jogadores de tênis também costumam
fazer aulas de balé para ganhar equilíbrio dentro das quadras. Acredito que isso seja
positivo por trabalhar outros músculos do corpo, mas não há dados que comprovem seu
benefício.
Pessoas do meio esportivo defendem a retirada de algumas
modalidades das Olimpíadas por causa do excesso de jogos. Entre elas está o futebol, que
já tem a Copa do Mundo. Isso seria positivo na sua opinião?
Oliveira - Todos os esportes têm direito a serem
incluídos nos Jogos Olímpicos. Se o problema é o excesso de provas, que se aumente o
número de dias da competição. Toda Olimpíada tem uma ou duas modalidades novas, que
passam por uma experiência. É o caso do vôlei de praia, um esporte que lotou as
arquibancadas e promoveu um grande espetáculo em Atlanta.
Como o sr. avalia o condicionamento dos atletas
brasileiros? Eles estão bem preparados para enfrentar os esportistas de outros países?
Oliveira - Depende do caso. O Xuxa e o Gustavo Borges, por
exemplo, treinam nos Estados Unidos. O mesmo não acontece com boa parte dos nossos
corredores. O problema, porém, não é fato de eles estarem treinando aqui, mas a falta
de apoio ao esporte no Brasil. Nos Estados Unidos e na Europa todo estudante pratica
natação, corrida, basquete ou qualquer outro esporte. Faz parte da cultura deles. Não
dá para comparar com o Brasil, onde apenas 2 por cento das universidades têm piscina e
pista de atletismo.
Qual o seu prognóstico para os atletas brasileiros em
Sydney?
Oliveira - Apesar de todos os problemas, acredito que, no
mínimo, teremos o mesmo número de medalhas conquistadas em Atlanta. Tem muita gente boa
por lá nas mais variadas modalidades, como hipismo, tênis, vôlei de praia, futebol,
natação e judô.
Fonte: CNN |