A afirmação é do
norte-americano Joe Goeken, treinador dos nadadores Gustavo Borges e Carlos Jayme.Borges e Jayme ganharam neste sábado, no Parque Aquático de Sydney, a
medalha de bronze do revezamento 4x100 metros.
Goeken disse à BBC, ainda na fase de treinamento, que o número
de testes positivos de doping vai ser bem menor do que deveria.
"Tenho certeza de que há atletas usando algum tipo de droga
para melhorar o desempenho. O problema é que os médicos e os laboratórios estão muito
à frente das pessoas que fazem os testes", disse Goeken.
Regras
O treinador lamentou que essa falha possa tirar as vitórias dos
nadadores que estão respeitando as regras.
"O Gustavo Borges, por exemplo, jamais tomaria algo que
fizesse mal à saúde dele, até porque ele tem uma mulher e um filho e dá grande valor
à família. O uso de doping vai contra todos os valores dele."
O treinador de Gustavo Borges e Carlos Jayme disse que a única
solução para o problema é tentar aprimorar os testes anti-doping, torná-los mais
sofisticados.
Mas o próprio Gustavo Borges admitiu que o doping vai estar
sempre em vantagem.
"O doping sempre existiu e sempre teve esse movimento todo
contra o doping, mas o doping sempre esteve um passo a frente, isto sempre vai acontecer,
infelizmente. Primeiro vem o doping, depois o antidoping", disse Gustavo Borges.
Asma
Há formas de doping que são permitidas legalmente.
Uma delas é a bombinha de asma.
Os broncodilatadores contidos na bombinha aumentam a capacidade
muscular.
O coração bate menos, o atleta respira menos vezes e tem
desempenho melhor.
O doutor Eduardo Henrique de Rose, brasileiro que faz parte da
equipe medica do COI, disse que apenas um entre 101 nadadores norte-americanos nos Jogos
Panamericanos de Winnipeg não tinha asma.
Os outros 100 eram autorizados a usar a bombinha, que é bastante
comum também nas provas de triatlon.
Gustavo Borges não tem certeza de que o medicamento contra a asma
faz diferença.
"Se o cara confia que bater a cabeça na parede vai melhorar
a performance, todo o mundo começa a bater a cabeça na parede. Se a bombinha ajuda, se
eles acham que ajuda, deixa eles usarem. E legal, né?"
Sangue
A substância mais usada na natação para melhorar o desempenho
é a eritropoietina, ou EPO.
Trata-se de um hormônio que aumenta a formação de glóbulos
vermelhos.
Com mais glóbulos vermelhos, o sangue transporta com mais
eficiência o oxigênio.
O desempenho do atleta melhora em provas de média e longa
duração.
Para tentar combater o uso da eritropoietina, o Comitê Olímpico
Internacional autorizou o teste de sangue a partir destas Olimpíadas.
A eficiência é maior do que a do teste de urina.
"É lamentável", diz o Joe Goeken, treinador de Gustavo
Borges, "que a atenção na natação esteja tão concentrada nesta questão. Eu não
sei qual é a solução para se combater o doping. Talvez só mesmo melhorando os
testes."