Pegue uma mangueira e dê alguns nós
ao longo da sua extensão. Se estiverem frouxos, eles deixam alguma água passar. Mais
apertados, viram pontos de estrangulamento. Se o esguicho estiver envelhecido ou com
rachaduras, a água pode vazar através das suas paredes ou arrebentá-las. A imagem,
usada pelo médico Artur Beltrame Ribeiro, diretor do Hospital do Rim e Hipertensão da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica bem os efeitos da pressão alta,
doença crônica que atinge cerca de 20% dos adultos no Brasil, o equivalente a 20
milhões de pessoas. "É esse o resultado da elevação da pressão por anos a fio
sobre as artérias, os canais condutores do sangue até os órgãos e tecidos do
corpo", explica. Pode haver mais gente padecendo do problema. Dados da campanha de
prevenção da Sociedade Brasileira de Hipertensão feita este ano sugerem que a moléstia
talvez afete 25% a 30% dos adultos. Pior, a maioria não sabe disso. Ela é perigosa e
está estreitamente relacionada a doenças cardiovasculares, como acidente vascular
cerebral (derrame) e infarto, principais causas de mortes no Brasil. Na contramão dessa
estatística, é animador saber que o tratamento da hipertensão pode reduzir em 40% as
chances de ocorrência de derrame e em 20% as de infarto. Felizmente, a luta contra a pressão alta tem grandes chances de ser
vencida. Os especialistas nunca tiveram tanta certeza como agora de que é possível
controlá-la e trazê-la para níveis aceitáveis, iguais ou inferiores a 140 mmHg
(milímetros de mercúrio) por 90 mmHg. Ou 14 x 9, como se diz popularmente. Nessa medida,
é possível evitar suas consequências dramáticas, descritas no quadro na página
anterior. "Não existe paciente que não dê resposta positiva ao tratamento bem
indicado", explica o nefrologista Fernando Almeida, da PUC de Sorocaba (SP). O ataque
está sendo feito em várias frentes. Na área química, há pelo menos seis classes de
remédios eficientes, muitos com efeitos colaterais (fraqueza, por exemplo) menos
intensos. Mas não é só. Complexa, a hipertensão também está sendo esmiuçada nos
laboratórios de genética. É uma trincheira essencial, pois a carga genética está na
origem de mais de 90% dos casos. Só para se ter uma idéia, os filhos de hipertensos têm
duas vezes mais chances de ter a doença. "No futuro, saberemos quais genes tornam
uma pessoa sensível aos fatores de risco, o que ajudará a descobrir as medidas nas quais
se deve investir para reduzir o problema", diz José Eduardo Krieger, cardiologista
do Instituto do Coração (Incor), em São Paulo.
Hoje, no entanto, uma das mais promissoras linhas de
combate é a mudança de hábitos. Pesquisas indicam que trocar o sofá pela malhação ou
o stress pela tranquilidade proporciona ganhos surpreendentes. Isso porque se fortalece a
constatação de que a hipertensão está muito ligada ao estilo de vida. Basta olhar para
a lista dos principais fatores de risco. Esse é um dos motivos que estão levando os
médicos a insistirem na redução de peso, por exemplo. "Para cada quilo que se
emagrece existe a redução de 1 milímetro na pressão", explica o nefrologista
Almeida. O trabalho do fisiologista Carlos Eduardo Negrão, do Incor, indica a mesma
direção. Num estudo com pacientes do Programa de Condicionamento Físico para Combater
Doenças Cardiovasculares, ele comprovou que a atividade física produz efeitos positivos,
desde que praticada de três a cinco vezes por semana, durante 45 minutos. "Mas é
preciso procurar um médico para saber qual é o melhor exercício", aconselha. Por
todas essas evidências, há um esforço dos médicos para convencer os doentes a mudar os
seus hábitos. O endocrinologista Lineu Silveira, do Hospital Sírio-Libanês, de São
Paulo faz questão de provar aos seus pacientes o quanto eles podem se beneficiar se
fizerem mudanças no seu dia-a-dia. Um dos argumentos é de que, controlada a hipertensão
há uma melhor qualidade de vida. "Em geral, os pacientes só procuram atendimento
quando sentem os sintomas como cansaço ou dores de cabeça. Nessa fase, a doença já
progrediu", explica Lineu. A única forma de detectar a doença, já que no começo
ela é assintomática, é medir a pressão no mínimo uma vez por ano.
Fonte:Istoé |