elevação dos preços e
impostos dos cigarros, pelas campanhas anti-tabagistas agressivas em vários estados e
pelo declínio na aceitação social do fumo. Ironicamente, a terra que deu o fumo ao
mundo está hoje o conduzindo para abandoná-lo. Nos Estados Unidos, o número de cigarros fumados por pessoa vem caindo há
duas décadas, reduzindo-se de 2.810 em 1980 para 1.633 em 1999, um declínio de 42
porcento. Em todo o mundo, onde o recuo em relação aos Estados Unidos tem um atraso de
uma década, o consumo caiu do pico histórico de 1.027 cigarros por pessoa em 1990, para
915 em 1999, uma queda de 11 porcento.
De fato, o fumo está em declínio em quase todos os
principais países consumidores, incluindo baluartes do fumo como a França, China e
Japão. O número de cigarros por pessoa caiu 19 porcento na França desde seu pico em
1985, 8 porcento na China desde 1990 e 4 porcento no Japão desde 1992, de acordo com o
banco de dados mundial do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.
A comprovação dos efeitos danosos à saúde
causados pelo fumo continua a crescer. Hoje existem registros de cerca de 25 doenças
relacionadas ao fumo, incluindo doenças cardíacas, derrames, doenças respiratórias,
várias formas de câncer e impotência masculina.
O fumo é um grande ceifador da vida humana. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que, em todo o mundo, 4 milhões de pessoas
morrem prematuramente a cada ano devido ao cigarro. As 400.000 vidas ceifadas todo ano por
doenças relacionadas ao fumo nos Estados Unidos, equivale ao número de americanos que
morreram na II Guerra Mundial. Na China, o fumo arrebata aproximadamente 2.000 vidas por
dia, o equivalente a dois desastres diários de aviões jumbo, sem sobreviventes.
O declínio do fumo nos Estados Unidos foi provocado
inicialmente pelo relatório sobre fumo e saúde, do Surgeon General [equivalente
norte-americano ao Ministro da Saúde], que foi publicado pela primeira vez em 1964. Desde
então vem sendo publicado quase anualmente, gerando milhares de estudos em todo o mundo
sobre o efeito do fumo na saúde. Esses estudos, e a cobertura da mídia sobre suas
conclusões, despertaram a consciência pública quanto aos efeitos danosos do cigarro,
não apenas nos Estados Unidos mas também em todo o mundo.
Ao longo dos anos, evidências crescentes dos
efeitos do fumo na saúde minaram a posição intransigente da indústria de cigarros
negando tal ligação. Ao faze-lo, a indústria perdeu a credibilidade. Os fabricantes de
cigarros começaram a perder ações na justiça quando os tribunais os responsabilizaram
pelos danos à saúde dos fumantes. No final de novembro de 1998, a indústria concordou
em pagar aos 50 governos estaduais um total de US$ 251 bilhões, para cobrir os custos dos
serviços de saúde pública no tratamento de doenças relacionadas ao fumo - quase US$
1.000 por cada cidadão americano.
A fim de cobrir os custos dessa indenização, os
fabricantes de cigarros elevaram os preços. Entre janeiro de 1998 e janeiro de 2000, o
preço médio do cigarro, no atacado, nos Estados Unidos subiu de US$ 1,31 por maço para
US$ 2,35, ou um aumento de 79 porcento em dois anos.
Enquanto as fábricas aumentavam os preços dos
cigarros, os governos estaduais elevavam os impostos. No final de 1999, impostos sobre
cigarros variavam de 2 centavos de dólar por maço em Virgínia, um estado produtor de
fumo, para US$ 1 por maço no Alasca e Havaí. Preços mais elevados de cigarros parecem
estar revertendo a tendência recente de alta no consumo entre adolescentes.
Os governos estaduais não apenas elevaram os
impostos sobre os cigarros, mas também insistiram, como parte da indenização de
novembro de 1998, que o Tobacco Institute, o braço lobista poderoso da indústria, fosse
desativado. Em 29 de janeiro de 1999 o Instituto, um dos "lobbies" mais bem
providos de fundos em Washington, com um quadro de funcionários efetivos de 60 pessoas,
fechou suas portas.
As restrições à publicidade de cigarros, que
começou com uma proibição de anúncios em rádios e TVs nos Estados Unidos, estão se
espalhando. A União Européia, por exemplo, recentemente promulgou uma lei proibindo toda
a publicidade de cigarros a partir de 2006.
As proibições de fumar também estão evoluindo. A
restrição começou em aviões, segregando áreas de fumantes e não-fumantes. Mas, nos
Estados Unidos, isto logo se ampliou para uma proibição total nos aviões, uma medida
que está sendo adotada por companhias aéreas em outros países.
O mesmo ocorre em restaurantes. Nos Estados Unidos,
a segregação de não-fumantes e fumantes foi substituída por uma proibição direta do
fumo em restaurantes em cinco estados - Califórnia, Nevada, Maryland, Minnesota e
Vermont. Proibição do fumo em transportes públicos e nos locais de trabalho hoje
existem em muitos países.
Até pouco tempo atrás, os fabricantes de cigarros
nos Estados Unidos não se preocupavam muito com o fato dos americanos estarem fumando
menos, já que vislumbravam um gigantesco mercado se abrindo no Terceiro Mundo, uma
oportunidade comercial sem precedentes. Todavia, não levaram em conta a globalização do
esforço anti-tabagista. De fato, vários governos de países em desenvolvimento estão
processando empresas americanas de cigarro nos tribunais dos Estados Unidos, reclamando a
recuperação dos custos do tratamento de doenças relacionadas ao fumo.
A campanha contra o fumo está sendo impulsionada
por pesquisas que indicam que o cigarro é uma das causas principais da impotência
masculina. A constrição e bloqueio de pequenos vasos sangüíneos associados ao fumo
pode primeiramente se manifestar na incapacidade de conseguir uma ereção, bem antes do
bloqueio das maiores artérias coronárias levar a uma doença cardíaca.
Um dos sustentáculos da campanha bem-sucedida da
Califórnia contra o cigarro, é um anúncio de televisão no qual um flerte de um homem
com uma mulher fracassa quando o cigarro em sua boca começa a abaixar. A experiência da
Califórnia demonstra que, enquanto os adolescentes masculinos podem não estar se
importando muito com a questão da mortalidade, estão preocupados com sua sexualidade. Na
Tailândia, os maços de cigarros trazem, em destaque, o aviso "O fumo causa
impotência sexual."
À medida que os custos sociais do fumo se tornam
mais visíveis, e o número de mortes relacionadas ao fumo aumenta, a campanha
anti-tabagista global ganha ímpeto. Os governos que antes consideravam o cigarro apenas
como fonte de receita, estão agora observando os custos ascendentes do tratamento das
doenças relacionadas ao fumo. A OMS lançou uma campanha mundial ambiciosa para
desencorajar o fumo, que espera culminará num tratado internacional, a Convenção da
Estrutura sobre o Controle do Fumo [Framework Convention on Tobacco Control] para
regulamentar o consumo do fumo.
Enquanto isso, o desafio é sustentar o declínio do
fumo ampliando ainda mais o trabalho educacional em todo o mundo sobre os efeitos na
saúde desse vício tão custoso, através de restrições maiores à publicidade,
proibições do fumo em locais públicos e ambientes de trabalho, e elevações dos
impostos sobre os cigarros para um nível que reflita mais o seu custo à sociedade. O
objetivo é tornar o fumo tão socialmente inaceitável quanto economicamente dispendioso.
Fonte: Lester Brown, WWI |