desenvolvida no
Laboratório de Investigação em Epilepsia da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo em Ribeirão Preto (FMRP/USP). A constatação foi feita pela médica Vera
Cristina Terra Bustamante, que analisou pacientes do Centro de Cirurgia de Epilepsia do
Hospital das Clínicas (Cirep), sob a orientação do professor João Pereira Leite. A cirurgia é recomendada para pacientes com epilepsia do lobo temporal
cujas crises não podem ser controladas, mesmo por doses altas de remédios que podem ser
tóxicas. Nessa forma da doença (a mais comum, respondendo por cerca de 40% das
epilepsias de adultos), a lesão básica, conhecida como esclerose hipocampal, encontra-se
no hipocampo. Os pacientes apresentam perda de consciência e automatismos diversos. O
objetivo da cirurgia é retirar a região atrofiada do cérebro que causa as crises.
Até hoje, não se recomendava a cirurgia para
pacientes que, além da epilepsia, apresentavam neurocisticercose. Esta infecção,
caracterizada pela presença de larvas da Taenia solium no sistema nervoso
central, é aceita pelos neurologistas como indício de epilepsia. Em torno da larva,
desenvolve-se reação inflamatória, com a formação de uma cápsula fibrosa; se a larva
degenerar, ocorre uma calcificação. Acreditava-se que a cirurgia não seria eficaz
nesses casos, pois além de extrair a parte atrofiada do hipocampo, seria preciso também
retirar as calcificações. "Se elas estiverem em regiões nobres do cérebro, sua
retirada pode trazer déficit ao paciente", explica João Pereira Leite.
Submeteram-se a cirurgia 30 pacientes com epilepsia
sem calcificação e 32 que também apresentavam neurocisticercose. No pós-operatório,
76,6% dos pacientes do primeiro grupo e 81,2% dos do segundo apresentaram prognóstico
excelente. Todos eles tiveram os primeiros sintomas da epilepsia durante a segunda década
de vida. A média de idade em que esses sintomas surgiram era de 10,1 anos no primeiro
grupo e 11,9 no segundo. A percentagem de pacientes que apresentaram convulsões
prolongadas ou meningite na infância é muito semelhante: 80% no primeiro grupo e 72% no
segundo.
Segundo Pereira Leite, a análise dos dados sugere
que a relação causal entre calcificação e epilepsia do lobo temporal pode ser apenas
uma coincidência. "O neurologista em geral faz a ligação entre a existência de
larva de Taenia solium no cérebro com a epilepsia, mas essa ligação nem sempre
corresponde à verdade." |