O dr. David Borsook e sua
equipe descobriram que as duas sensações ativam os mesmos circuitos no cérebro - o que
sugere que as respostas à dor e ao prazer sejam similares. A descoberta pode abrir o caminho para a melhoria do tratamento da dor e
também aumenta a compreensão de como o cérebro funciona, disse o especialista,
acrescentando que o estudo pode oferecer ainda uma forma objetiva de medir uma sensação
intensamente pessoal.
"A dor não é só uma experiência sensorial -
'Eu a sinto aqui e só' -, mas é também uma experiência emocional", disse Borsook.
"É essa experiência emocional que tem sido difícil de ser capturada ou
definida".
"Ao definir esse circuito, acreditamos que,
agora, estamos numa posição de compreender o que é o maior problema em um paciente
crônico, e isso é sua reação emocional à dor", acrescentou. "Ele fica
ansioso, não come bem, fica deprimido e, até mesmo, apresenta tendências
suicidas".
Borsook e sua equipe usaram uma tecnologia que
permite aos cientistas ver o cérebro em ação. Eles obtiveram imagens funcionais dos
cérebros de oito jovens saudáveis, do sexo masculino, enquanto realizavam vários
testes.
Em um desses testes, uma pequena chapa aquecida foi
amarrada às mãos dos voluntários. Os pesquisadores aqueceram inicialmente de forma
moderada e agradável e, posteriormente, a uma temperatura que causasse incômodo e dor.
As temperaturas que causam dor ativaram não apenas
as áreas tradicionalmente associadas a esse fenômeno no cérebro, mas também as áreas
que anteriormente eram consideradas pontos envolvidos na ativação de um circuito de
"recompensa", disseram os cientistas em um relato de sua experiência, publicado
na edição desta semana da revista Neuron.
Em algumas das estruturas associadas à recompensa -
áreas conhecidas por ser ativadas por alimentos, dinheiro e, também, por drogas como a
cocaína - foram detectados diferentes padrões.
Houve também uma variação na resposta ao longo do
tempo.
"Há dois sistemas no cérebro que jamais foram
associados no passado, e essa foi a primeira vez que vimos algo adverso ativando essas
estruturas de recompensa", disse Lino Becerra, que participou da realização do
estudo.
Borsook afirmou, por sua vez, que algo mais complexo
do que uma simples resposta positiva ou negativa pode estar ocorrendo.
"Pode ser que esses circuitos, anteriormente
descritos como estruturas que lidam com a recompensa, sejam aqueles que analisam os
estímulos e julgam quais são importantes para a sobrevivência", declarou o chefe
da pesquisa.
"Eu espero que esses resultados nos ajudem a
entender como a dor crônica produz mudanças nos cérebros dos pacientes. Por exemplo,
muitos pacientes com dores crônicas relatam que não conseguem ter nenhuma experiência
agradável... Essa interação de sistemas no cérebro pode explicar, também, por que
pacientes podem tomar certas drogas para aliviar a dor sem se tornarem viciados",
acrescentou.
Borsook, que estuda dores crônicas há 15 anos,
disse que um dos maiores problemas no tratamento desse fenômeno é que os médicos não
têm, para muitas dessas condições, o equivalente a um antibiótico, com o qual se possa
testar a sensibilidade e até curar o paciente.
O novo estudo, segundo o especialista, pode também
ajudar no desenvolvimento de remédios mais eficazes contra a dor.
"As atuais terapias são essencialmente
baseadas no folclore - drogas e aspirinas", disse. "Nós nem mesmo sabemos como
eles funcionam".
As descobertas, ainda segundo o especialista, podem
também explicar a incomum resposta dos masoquistas à dor, embora ressaltasse que esse
não era seu objetivo na pesquisa.
"Claramente, se o sadismo e o masoquismo
representam algo no continuum recompensa-aversão, uma hipótese sugere que, talvez, os
circuitos foram modificados para que um estímulo que normalmente causaria aversão seja
percebido como uma recompensa", concluiu.
(Com informações da Reuters)
Fonte: CNN |