Choro de alegria, choro de
tristeza, choro de dor, choro de saudade. São muitas as causas dessa forma tão simples e
natural de expressão. Nascemos chorando e, pelo menos para grande parte das pessoas, as
lágrimas serão sempre uma das mais sinceras formas de mostrar as emoções. Segundo a psicóloga e psicoterapeuta Simone Aziz, o choro, na vida adulta,
pode ter significados muito diversos. É bem diferente do choro do bebê, que acontece
quando ele quer ver satisfeitas necessidades como fome, sede, conforto, atenção
"O interessante é que a forma como o choro da
criança é recebido na família pode determinar muitos aspectos na formação de sua
personalidade na vida adulta", disse.
Algumas mães conseguem desenvolver uma afinidade tão
grande e natural com seus bebês que depois de apenas alguns dias de convívio já são
capazes de identificar nas pequenas nuances de cada chorinho o seu significado.
Outras mães não conseguem desenvolver essa habilidade e
algumas não permitem que o choro se estabeleça como comunicação entre elas e seus
bebês. O choro deixa de ser um apelo natural e se transforma num incômodo.
"Há bebês que choram e são logo atendidos,"
disse a psicóloga. "Outros não e por isso passam a chorar mais alto,
desesperadamente, para que suas necessidades sejam satisfeitas. Mas há um terceiro
momento em que o bebê pára de chorar. Transforma-se assim num "bebê
bonzinho", mas que na verdade está apático. Não chora mais porque sabe que não
será atendido. Ao crescer, este bebê pode se tornar um adulto apático também, uma
pessoa sem vontade de lutar, de batalhar pelos seus desejos, pela vida."
Crianças maiores também costumam usar o choro como
instrumento de comunicação e com mais freqüência usarão esse recurso quanto mais
perceberem que ele funciona para conseguirem o que querem. Em algumas famílias, as
crianças aprendem que as lágrimas são um excelente instrumento de chantagem. Quando
adultos, poderão adotar um comportamento semelhante e utilizarão o choro como uma forma
de sedução.
Além da emoção
Na idade adulta, o choro pode ser não apenas a expressão
de uma emoção, mas ainda uma defesa contra algumas emoções. Segundo a psicóloga,
muitas pessoas desenvolvem um mecanismo de defesa onde o choro é o grande recurso. A
raiva é uma emoção que costuma encontrar defesa nas lágrimas, principalmente quando
ela se direciona para pessoas como pai e mãe, ou figuras de autoridade.
Aprendemos a vida inteira que não é certo nem permitido
sentir raiva dos pais e quando em uma situação isso acontece, algumas pessoas se
defendem chorando. "O choro servindo então como bloqueador da percepção da raiva
subjacente" disse.
Há também gente que chora demais ou que se deixam
paralisar pelo choro. Como resposta a qualquer adversidade, recorrem às lágrimas e não
param mais. Segundo Aziz, essa reação é muito semelhante àquela das pessoas que riem
demais ou que brincam demais, mesmo nas situações mais impróprias. "Pode ser uma
defesa contra algo que não se quer ver", diz Simone, que lembra ainda o "poder
paralisador" do choro: "Enquanto se chora, não se age".
Chorar é também uma exposição, uma entrega - e chorar
com facilidade pode ser muito positivo. Geralmente, quem chora quando tem vontade e
estabelece o contato com a emoção em questão - ainda que com mais freqüência do que
gostaria - está de bem com seus sentimentos e também encontra facilidade em expressar o
medo, a raiva, a insegurança.
"Chorar faz bem, desanuvia, esvazia a emoção, mas
só quando representa uma emoção genuína," afirmou. "O chorar que faz bem é
o chorar de verdade, que não funciona como tapa-buraco para as situações."
Quando faltam lágrimas
Se chorar é se expor, muita gente prefere não chorar. No
caso dos homens, colabora ainda a educação machista, em que os meninos crescem ouvindo
frases como "homem que é homem não chora".
Em pessoas que cronificaram suas defesas, é possível que
o choro se torne impossível. Alguns homens - e mulheres também - precisaram construir,
ao longo da vida, defesas muito grandes para suas emoções e acabam reprimindo suas
lágrimas.
Essas pessoas em geral possuem uma personalidade
aparentemente forte e resistente, como se nada pudesse atingi-las, mas em geral apresentam
somatizações como pressão alta, úlcera e problemas renais.
É comum que pessoas que não conseguem chorar tenham sido
incompreendidas ou hostilizadas na infância. Outras vezes, foram crianças que assumiram
cedo demais responsabilidades para as quais não estavam preparadas ou que tiveram suas
emoções desprezadas, impedindo qualquer comportamento espontâneo.
Para que consigam descobrir e usufruir dos benefícios das
lágrimas, pessoas que não choram muitas vezes precisam de ajuda psicológica. Então
descobrem que o choro é necessário e não é expressão de fragilidade. "Quanto
mais assumimos as nossas fragilidades, mais conseguimos nos enxergar de uma forma inteira
e mais nos tornamos fortes", afirmou a psicóloga.
Fonte: CNN |