O espelho reflete músculos
enormes e desenhados e no início o corpo escultural pode dar a impressão de saúde de
sobra. Mas o uso indiscriminado de anabolizantes detona a saúde, a despeito do que pensam
muitos freqüentadores de academias e atletas candidatos a recordistas. Voz fina, desenvolvimento dos seios e queda de cabelos atacam os homens.
Nas mulheres, o aparecimento de pêlos, o engrossamento da voz e outros truques circenses
são algumas das conseqüências da ingestão dos anabolizantes. Afinal, estes hormônios
sintéticos foram desenvolvidos para tratar certas doenças, com acompanhamento médico
rigoroso.
Físico avantajado seduz jovens vaidosos em busca de
afirmação. O apelo é sedutor. O árduo trabalho de um ano de malhação pode ser
facilmente substituído por ciclos de anabolizantes. O resultado aparece em
aproximadamente dois meses. A força e os músculos de Hulk, porém, vão embora num passe
de mágica se o uso da droga não for contínuo.
Rapidamente, o corpo perde todo o crescimento artificial
produzido pelos anabolizantes. "É perfeitamente possível conseguir o corpo sarado
sem os esteróides", afirma o professor de educação física e campeão de aeróbica
Paulo Akiau, para quem um corpo saudável e bonito pode ser construído com alimentação
regrada e exercícios organizados.
Embora os esteróides não melhorem a habilidade, agilidade
ou capacidade cardiovascular, o aumento da massa muscular, da força e da resistência
pode ajudar na performance atlética. Por isso, o uso de anabolizantes é considerado
doping, proibido por entidades esportivas de todo o mundo.
Um dos casos mais conhecidos é o do velocista canadense
Ben Johnson, flagrado pelo teste antidoping após a vitória e o recorde mundial
conquistados na prova dos 100m rasos nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988. Johnson perdeu
a medalha, o dinheiro dos patrocinadores e foi suspenso pelo Comitê Olímpico
Internacional.
Contaminação por meio de compartilhamento de seringas é
um dos perigos dos anabolizantes injetáveis
Os esteróides podem ser injetáveis ou orais. A forma
preferida dos usuários é a aplicação intramuscular, em que a substância age mais
rapidamente do que por via oral. Mas um perigo adicional está presente entre os adeptos
da injeção: o compartilhamento de seringas, que pode levar a doenças como AIDS e
hepatite.
O uso médico dos anabolizantes - aliás, o único que
deveria existir - é aconselhável no combate de alguns tipos de câncer, anemia,
osteoporose e hipogonadismo, doença que faz o homem produzir testosterona em baixa
quantidade.
Há uma fase do metabolismo em que os alimentos são
transformados em substâncias como hormônios e enzimas. Essa fase chama-se anabolismo. Os
esteróides são substâncias sintéticas que reproduzem as características da
testosterona, um hormônio sexual masculino. Seu efeito anabólico está ligado à
retenção das proteínas dos alimentos e é o que contribui para o aumento dos músculos
quando estimulados por exercícios físicos.
Como são substâncias que imitam as características
masculinas da testosterona, vários sintomas relacionados à virilização podem surgir.
Uma série de efeitos colaterais, tanto físicos como psicológicos, pode aparecer com o
uso indiscriminado de esteróides. Para se ter uma noção das altas doses ingeridas por
fisiculturistas, um homem saudável não chega a produzir 10 miligramas de testosterona
por dia. Há registros de doses até 40 vezes maiores do que as indicadas
terapeuticamente.
Na contra-mão da saúde: os efeitos
colaterais são muitos e perigosos
Um dos efeitos colaterais mais impressionantes é o
aparecimento de características femininas nos homens. Isso acontece porque, depois de
muito tempo utilizando esteróides, os testículos deixam de produzir testosterona.
"O uso de testosterona sintetizada ou derivados em
excesso para ganho de massa muscular suprime a atividade dos testículos e causa
diminuição da produção natural do hormônio. Como o homem produz androgênio
(hormônio masculino) e também estrogênio (feminino), ocorre um desequilíbrio. Diminui
a testosterona e aumenta o estrogênio", explica a endocrinologista Luciana Bahia,
que alerta ainda para a possibilidade de afinamento da voz e diminuição dos pêlos
corporais.
Pele - A aspereza é um sinal relacionado à virilização
e é irreversível. O aparecimento de acne e de estrias também é comum.
Calvície - Acelera o processo de queda de cabelo nos
homens e estimula o processo entre as mulheres.
Comportamento - Aumento da agressividade é um problema
comum. A dificuldade em controlar-se pode causar sérios problemas sociais e de
relacionamento.
Virilização - O uso prolongado e em altas doses de
esteróides pode levar mulheres a assumir características masculinas, como agressividade,
crescimento de pêlos pelo corpo e face, engrossamento da voz, aumento do clitóris e
irregularidade no ciclo menstrual.
Problemas cardiovasculares - embora reversível com a
suspensão do uso de anabolizantes, pode ser fatal. O uso de esteróides aumenta o nível
do mau colesterol, o que pode causar a obstrução das paredes das artérias. Está
relacionado ainda ao aumento da pressão arterial.
Ginecomastia - hipertrofia excessiva das glândulas
mamárias do indivíduo do sexo masculino. O homem com taxa muito alta de testosterona no
organismo devido a esteróides deixa de produzir seus próprios hormônios, o que leva à
atrofia de seus órgãos masculinos e aumento das características femininas.
Crescimento - O uso de anabolizantes por adolescentes pode
dificultar que se atinja todo o potencial de crescimento, já que os esteróides
transformam as cartilagens de crescimento em osso calcificado.
Rins - A função de filtrar e eliminar substâncias
tóxicas ficará sobrecarregada após muito tempo de uso de esteróides.
Fígado - Outro órgão que fica sobrecarregado,
principalmente com o uso de esteróides por via oral, que ainda precisam ser metabolizados
pelo organismo. A droga está ainda associada à formação de tumores cancerígenos no
fígado, próstata e cérebro.
Impotência - num primeiro momento, há aumento da função
sexual. Com o passar do tempo e o uso prolongado, o homem poderá sentir diminuição da
libido, redução do esperma e dificuldades de ereção. Nas mulheres, após o aumento
súbito da libido, a droga causa também frigidez.
Hormônio de crescimento também é
utilizado indiscriminadamente
O uso do hormônio de crescimento é outra forma de doping
que vem aumentando. Trata-se de mais um anabolizante cujo uso sem propósitos médicos é
proibido. "Tem efeitos similares aos da testosterona sobre músculos e ossos e
também é nocivo ao aparelho cardiovascular. Além disso, pode causar um tipo de diabetes
conhecido por mellitus", alerta Maria Lúcia Fleiuss de Farias, coordenadora do curso
de pós-graduação em endocrinologia da UFRJ.
O que tem evitado a maior incidência no Brasil é o alto
preço dos hormônios de crescimento. Por mês, pode gastar-se até quatro mil dólares. E
vários efeitos colaterais também são relacionados a eles, como hipotireoidismo,
tendência à obesidade e aumento de até quatro vezes no risco de câncer de próstata.
Para Paulo Akiau, quem se alimenta bem não precisa fazer
uso de suplementos. "Por princípios, só utilizei treinamento e alimentação
controlada e conquistei meus objetivos na minha vida como atleta, além de um corpo que me
satisfazia plenamente", garante.
"A alimentação rica em proteínas de origem animal
estimula naturalmente a produção do hormônio de crescimento pelo organismo e facilita o
crescimento e ganho muscular", afirma Maria Lúcia Fleiuss de Farias.
Portanto, se o seu objetivo é ganhar massa muscular, deixe
a preguiça de lado e mãos à obra. Procure uma academia de ginástica séria e visite um
nutricionista. A malhação bem feita acompanhada de uma alimentação correta garante
resultados saudáveis e duradouros, sem a necessidade de jogar uma bomba para dentro de
você.
Fonte: CNN |