o 24º Congresso
Internacional de Neuropsicologia, realizado no Hospital Sarah Kubitschek. Apesar de cada indivíduo processar de maneira particular tarefas
similares, explica Lúcia, de um modo geral as áreas do cérebro ativadas são as mesmas.
Por isso, um dos primeiros procedimentos quando o paciente sofre uma lesão cerebral é
fazer uma ressonância magnética. Isso permite ao médico, além de verificar as regiões
atingidas, identificar as possíveis funções prejudicadas.
Com sua experiência no tratamento de pessoas
lesionadas, Lúcia percebeu que alguns pacientes com áreas atingidas semelhantes
apresentavam diferentes dificuldades motoras. Analisando detalhadamente a ficha de cada um
deles, ela verificou que pessoas com formação educacional semelhante tendiam a ter as
mesmas funções prejudicadas. Partindo dessa constatação, a médica decidiu desenvolver
sua pesquisa.
Lúcia selecionou 49 indivíduos adultos sadios: 19
analfabetos puros e trinta pessoas com nível universitário. Pela ressonância magnética
funcional, ela analisou como o cérebro de cada um deles respondia às mesmas tarefas. Com
esse equipamento, se consegue ver que áreas do cérebro são irrigadas pelo sangue quando
do raciocínio.
Em ambos os grupos foi revelada função bilateral
no cérebro, mas nos não alfabetizados, além dos lobos frontal e temporal, também foi
ativado o lobo occipital, relacionado à visão, mostrando que estes necessitam visualizar
o problema para poder resolvê-los. "Isso não quer dizer que o alfabetizado pensa
melhor que o analfabeto, apenas demonstra que existem caminhos diferentes para se resolver
o mesmo problema", salienta a pesquisadora
Para os alfabetizados algumas das questões
colocadas - dez pessoas num fusca é muito? Ou 200 pessoas no estádio do Maracanã é
pouco? - sequer mostraram atividade cerebral. Já os analfabetos para processarem os
mesmos problemas precisavam imaginar um fusca, ou o Maracanã, e ir contando pessoas para
concluir se era pouco ou muito. "Um deles me contou que foi colocando toda a família
dentro do carro até concluir que era muita gente", ilustrou a médica.
Com os resultados desse estudo, Lúcia acredita ser
possível otimizar a recuperação de lesionados já que o tratamento poderá ser
diferenciado, de acordo com a forma que ele utiliza seu cérebro. "Antes de iniciar o
tratamento, o paciente deve passar por uma ressonância funcional para verificar de que
forma ele desenvolve suas tarefas", explicou.
A influência cultural e educacional sobre a forma
de processamento cerebral também foi defendida por outros pesquisadores no Congresso de
Neuropsicologia. Gérard Deloche, da Universidade de Reims, na França, diz que "não
podemos estudar aspectos mentais sem levarmos em conta conceitos como o de cultura,
escolaridade, emoções, conceitos de qualidade de vida e reabilitação". O melhor
atestado recebido pela pesquisa de Lúcia foi dado pela revista Nature Neuroscience, que
prometeu para breve matéria de capa sobre os estudos.
No congresso, Lúcia Braga apresentou outro estudo,
em parceira com o professor Gérard Deloche, um dos professores da Universidade Sarah, em
que foi avaliada a importância da família no tratamento de crianças com lesão
cerebral. Divididas em dois grupos, 180 crianças foram analisadas durante um ano. Um dos
grupos recebeu tratamento apenas de profissionais especializados.
O outro foi acompanhado por familiares, previamente
treinados para desenvolver as atividades relacionadas à recuperação dos menores. Ao
final do período, as crianças estimuladas por familiares em casa tiveram melhor
recuperação. "Isso demonstra que é essencial a interação entre profissionais e
familiares na reabilitação das crianças", destaca Lúcia. Como resultado desse
estudo, a Rede Sarah estará ministrando cursos para pais interessados em aprender a
estimular seus filhos.
(Com informações da Agência Brasil)
Fonte: CNN |