Textos

Stella Teixeira de Barros - Os objetos de Nazareth Pacheco
01/01/1989

A pesquisa laboriosa de Nazareth Pacheco vem cada vez mais expressando um aprimoramento refinado: o interesse na experimentação de materiais díspares em confrontação contínua mostra sua determinação em transpor a resistência de cada um deles. A familiaridade que vai adquirindo face a esses materiais vem à tona no conjunto uníssono de seu trabalho, sempre calibrado por saborosas e intrigantes associações. As convergências, quer das chapas metálicas quer do mármore, com a borracha, ou ainda desta com o couro, provocam um jogo tencionado entre massas diversificadas, tanto em relação à forma, quanto à cor ou à textura. Nestes objetos ocorre uma fusão amalgâmica ativa surpreendente, originária do entrelaçamento harmônico de uma geometria nuançada por uma organicidade sutil. O apuro com que a artista manipula a articulação dual entre a instância geométrica e a orgânica atrai outros pares antagônicos, bipolaridades em perpétuo devir – frio / calor, porosidade / lisura, alvura / negritude, brilho / opacidade, maciez / rudeza, placidez / desafio – que, por sua condição movente, medram situações permeadas por permutações cíclicas. É através dessas correlações cambiantes, acentuadas pela incisiva repetição rítmica dos pinos de borracha, que os objetos de Nazareth adquirem conotações multifacetadas e extrapolam o caráter inanimado da matéria. A sensorialidade aguda que deles emana se dissimula como um código a ser decifrado através do próprio embate dos materiais, numa luta corpórea transcendente, que se traduz em densidade reflexiva e nos convida, com insistente desenvoltura, a novos e instigantes achados.

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