Tadeu Chiarelli - Objetos dependentes
01/03/1990
Nazareth Pacheco faz parte de uma geração de artistas paulistanos que acredita poder transformar a sensibilidade complacente do publico numa sensibilidade violada, através da produção de objetos que buscam formar outras possibilidades de percepção do espaço e da matéria.
No entanto, as propostas da maioria dos artistas dessa nova geração não vem se realizando de maneira satisfatória. Mesmo descontando a extrema juventude destes artistas é preocupante o quanto suas produções vêm repetindo soluções já desenvolvidas à exaustão por alguns de seus predecessores. Seus trabalhos procuram não incorrer em erros e em ousadias comprometedoras buscando, enfim, operar dentro de um gosto de origem pós-minimalistas mal absorvido, tido por alguns segmentos da crítica e do publico paulistano como a única alternativa para a arte de hoje em dia.
Uma arte supostamente alternativa, supostamente deflagradora de novas percepções e que, na verdade, nada mais tem feito do que repisar propostas já devidamente institucionalizadas.
Mas a produção de Nazareth Pacheco não se enquadra neste contexto. Apesar da artista ter a mesma ascendência dos seus colegas, sua produção vem apresentando nos últimos dois anos a preocupação real em se colocar como um fator problematizador da percepção da obra de arte.
Os objetos de Nazareth podem ser caracterizados como construções aditivas de materiais diversos, sem nenhum aparato que os separe (literal ou metaforicamente ) do espaço onde se inserem. Seus objetos não possuem base, pedestal e nem são produzidos com materiais nobres. E são essas, na verdade, as características dos trabalhos da artista que podem coloca-los ao lado dos trabalhos de seus colegas: características do objeto tridimensional de extração pós-minimalista. Mas as semelhanças acabam aqui.
A maioria dos trabalhos de Nazareth Pacheco possuem como questão fundamental de sua gênese conceptiva a característica da maleabilidade que os tornam singulares no contexto não só da jovem produção tridimensional paulistana, mas na maioria da produção tridimensional atual.
Concebendo objetos cujas estruturas são realizadas com materiais maleáveis (chapas delgadas de metal, chapas ou filetes de borracha) onde são adicionados outros materiais, a artista rompe com uma condição inerente ao objeto de arte moderno, que nem os minimalistas e a maioria dos pós-minimalistas (sobretudo os brasileiros) conseguiram romper: a integridade do objeto de arte, ou seja, sua auto-referência, sua independência em relação ao espaço e ao observador.
Qualquer um dos objetos moles de Nazareth, na sua recusa em posar como exemplo do que deveria ser um objeto de arte (no sentido da arte moderna), propõe a possibilidade real de interação com o ambiente onde está instalado e com aquele que o percebe. É como se os objetos da artista existissem apenas quando percebidos pelo olhar e pelo tato.
Dependentes, manipuláveis, moles e desprovidos de aura, por tudo isso os objetos de Nazareth Pacheco são possuidores de uma singular potência significativa dentro do contexto da arte atual, conseguindo, de fato, violar a sensibilidade complacente do publico.