Textos

Regina Teixeira de Barros - Nazareth Pacheco
02/02/1996

Usando seu próprio corpo como ponto de partida, Nazareth Pacheco modela, em gesso, suas mãos, rosto, seios e umbigo. A escolha dessas “matrizes” nada tem de acidental; se num extremo invade um território privado (seios e umbigo), como antítese representa o que sempre fora público(mãos e rosto). Soma-se a este conjunto autobiográfico moldes de outros corpos - mas que invariavelmente lhe dizem respeito - como as mãos de amigos ou impressões digitais de seus ascendentes, irmãos e sobrinhos. Neste transito entre o que é íntimo e o que é exposto , entre o que lhe pertence e o que pertence a seres queridos, Nazareth pontifica acontecimentos de sua história pessoal, assim delineando seu percurso de vida.

Ao mesmo tempo em que generosamente se presta a uma leitura autoreferente da artista, esta série de trabalhos nos remete a algo maior, que transcende a singularidade do sujeito. Vistos sobre outro aspecto, esses mesmos moldes e objetos fundidos carregam um discurso sobre a Vida, onde a noção de ponto linear é posta a xeque. Tudo que resulta do transcorrer do tempo, como transformações, desenvolvimentos e envelhecimentos, é excluído. Os instantes são petrificados, numa tentativa de perpetuar o presente, de reter acontecimentos, de preservar a vida em sua integridade. Trata-se sem dúvida, de um aferrado elogio à vida.

Não obstante, a assepsia dos trabalhos chama a atenção para uma naturalidade longínqua ou inexistente, percorrendo um viés anti-natura , ao mesmo tempo que os movimentos congelados (das mãos, por exemplo) apontam para a morbidez e estagnação que sondam a Morte.

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