Rejane Cintrão - O sofrimento pelo belo
01/06/1999
Em 1993, 0 Museu de Arte Moderna de São Paulo apresentou a exposição "Espelhos e Sombras” *. Premonitora das tendências ocorrentes na arte brasileira desta década, reuniu trabalhos de uma nova geração questionando o corpo, a morte, a existência. Os trabalhos de Nazareth Pacheco integrantes desta notável exposição apontavam a futura produção da artista: dezenas de espéculos de acrílico transparente cartesianamente organizados (herança construtiva presente em vários artistas brasileiros) formavam um conjunto atraente por sua beleza. Até o espectador se dar conta do que eram e para que são utilizados...
A partir desta obra, Nazareth deu início a uma produção construída a partir de objetos ligados ao mundo feminino, sempre de maneira modular. Utilizando cristais e miçangas, realizou uma série de ornamentos e vestimentas, nas quais a sedução é inevitável, a exemplo do belíssimo vestido negro presente nesta exposição. Quando o vemos, o desejamos.
Mas a sedução tem um preço. Ao tocá-lo podemos nos ferir, pois entre os belos ornamentos encontram-se objetos extremamente cortantes: lâminas. A beleza se torna cruel..
O trabalho de Nazareth espelha a sociedade deste final de século: era de corpos esqueléticos resultantes de regimes intermináveis, de modelos que desfilam roupas que só elas podem usar, de infindáveis cirurgias buscando a eterna juventude. Há que sofrer belo...