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COGUMELOS
E PLANTAS ALUCINÓGENAS
Definição e histórico
A palavra alucinação significa, em linguagem
médica, percepção sem objeto; isto é, a pessoa que está em processo de
alucinação percebe coisas sem que elas existam. Assim, quando uma pessoa ouve
sons imaginários ou vê objetos que não existem ela está tendo uma alucinação
auditiva ou uma alucinação visual.
As alucinações podem aparecer espontaneamente no ser
humano em casos de psicoses, sendo que destas a mais comum é a doença mental chamada
esquizofrenia. Também podem ocorrer em pessoas normais (que não têm doença mental) que
tomam determinadas substâncias ou drogas alucinógenas, isto é, que "geram"
alucinações. Estas drogas são também chamadas de psicoticomiméticas por
"imitarem" ou "mimetizarem" um dos mais evidentes sintomas das
psicoses as alucinações. Alguns autores também as chamam de psicodélicas. A
palavra psicodélica vem do grego (psico = mente e delos = expansão) e é utilizada
quando a pessoa apresenta alucinações e delírios em certas doenças mentais ou por
ação de droga. É óbvio que estas alterações não significam expansão da mente.
Isto porque a alucinação e o delírio nada têm de
aumento da atividade ou da capacidade mental; ao contrário são aberrações,
perturbações do perfeito funcionamento do cérebro, tanto que são característicos das
doenças chamadas psicoses.
Grande número de drogas alucinógenas vêm da natureza,
principalmente de plantas. Estas foram "descobertas" pelos seres humanos do
passado que, ao sentirem os efeitos mentais das mesmas, passaram a considerá-las como
"plantas divinas", isto é, que faziam com que quem as ingerisse recebesse
mensagens divinas, dos deuses. Assim, até hoje em culturas indígenas de vários países
o uso destas plantas alucinógenas tem este significado religioso.
Com o processo da ciência várias substâncias foram
sintetizadas em laboratório e desta maneira, além dos alucinógenos naturais hoje
em dia têm importância também os alucinógenos sintéticos, dos quais o LSD-25
é o mais representativo. Estes últimos serão objetos de outro folheto.
Há ainda a considerar que alguns destes alucinógenos
agem em doses muito pequenas e praticamente só atingem o cérebro e, portanto, quase não
alteram qualquer outra função do corpo da pessoa: são os alucinógenos propriamente
ditos ou alucinógenos primários. O THC (tetrahidrocanabiol) da maconha, por exemplo, é
um alucinógeno primário e será analisado em folheto próximo. Mas existem outras drogas
que também são capazes de atuar no cérebro produzindo efeitos mentais, mas somente em
doses que afetam de maneira importante várias outras funções: são os alucinógenos
secundários. Entre estes últimos podemos citar uma planta, a Datura,
conhecida no Brasil sob vários nomes populares e o remédio Artane®
(sintético). Estas substâncias farão parte de um outro folheto.
Os vegetais alucinógenos que ocorrem no Brasil
O nosso país, principalmente através de sua imensa
riqueza natural, tem várias plantas alucinógenas. Os mais conhecidos estão citados a
seguir.
Cogumelos
O uso de cogumelos ficou famoso no México, onde desde
antes de Cristo já era usado pelos nativos daquela região. Ainda hoje, sabe-se que o
"cogumelo sagrado" é usado por alguns pajés. Ele recebe o nome científico Psilocybe
mexicana e dele pode ser extraído uma substância de poderosa alucinógena: a
psilocibina. No Brasil, ocorrem pelo menos duas espécies de cogumelos alucinógenos, em
deles é o Psilocybe cubensis e o outro é espécie do gênero Paneoulus.
Jurema
O vinho de Jurema, preparado à base de planta brasileira
Mimosa hostilis, chamado popularmente de Jurema, é usado pelos
remanescentes índios e caboclos do Brasil. Os efeitos do vinho são muito bem descritos
por José de Alencar no romance Iracema. Além de conhecido pelo interior do
Brasil, só é utilizado nas cidades em rituais de candomblé por ocasião de passagem de
ano, por exemplo. A Jurema sintetiza uma potente substância alucinógena, a dimetiltriptamina
ou DMT, responsável pelos efeitos.
Mescal ou Peyolt
Trata-se de um cacto, também utilizado desde remotos
tempos na América Central, em rituais religiosos. Trata-se de um cacto que produz a
substância alucinógena mescalina. Não existe no Brasil.
Caapi e Chacrona
São duas plantas alucinógenas que são utilizadas
conjuntamente sob forma de uma bebida que é ingerida no ritual Santo Daime ou Culto da
União Vegetal e várias outras seitas. Este ritual está bastante difundido no Brasil
(existe nos Estados do Norte, São Paulo, Rio de Janeiro, etc.) tendo o seu uso na nossa
sociedade vindo dos índios da América do Sul. No Peru a bebida preparada com as duas
plantas é chamada pelos índios quéchas de Ayahuasca que quer dizer
"vinho da vida". As alucinações produzidas pela bebida são chamadas de mirações
e os guias desta religião procuram "conduzi-las" para dimensões
espirituais da vida.
Uma das substâncias sintetizadas pelas plantas é a DMT
já comentada em relação à Jurema.
Efeitos no cérebro
Já foi acentuado que os cogumelos e as plantas
analisadas acima são alucinógenas, isto é, induzem alucinações e delírios. É
interessante ressaltar que estes efeitos são muito maleáveis, isto é, dependem de
várias condições, como sensibilidade e personalidade do indivíduo, expectativa que a
pessoa tem sobre os efeitos, ambiente, presença de outras pessoas, etc., como a bebida do
Santo Daime.
As reações psíquicas são ricas e variáveis. Às
vezes são agradáveis ("boa viagem") e a pessoa se sente
recompensada pelos sons incomuns, cores brilhantes e pelas alucinações. Em outras
ocasiões os fenômenos mentais são de natureza desagradável, visões terrificantes,
sensações de deformação do próprio corpo, certeza de morte iminente, etc. São as
"más viagens".
Tanto as "boas" como as "más"
viagens podem ser conduzidas pelo ambiente, pelas preocupações anteriores (o
experimentador contumaz sabe quando não está de "cabeça boa" para tomar o
alucinógeno) ou por outra pessoa. Esse é o papel do "guia" ou
"sacerdote" nos vários rituais religiosos folclóricos, que, juntamente com o
ambiente do templo, os cânticos, etc., são capazes de conduzir os efeitos mentais para o
fim desejado.
Efeitos no resto do corpo
Os sintomas físicos são poucos salientes, pois são
alucinógenos primários. Pode aparecer dilatação das pupilas, suor excessivo,
taquicardia e náuseas/vômitos, estes últimos mais comuns com a bebida do Santo Daime.
Aspectos gerais
Como ocorre com quase todas as substâncias
alucinógenas, praticamente não há desenvolvimento de tolerância; também comumente
não induzem dependência e não ocorre síndrome de abstinência com o cessar de uso.
Assim, a repetição do uso dessas substâncias tem outras causas que não o evitar os
sintomas de abstinência. Um dos problemas preocupantes com o uso desses alucinógenos é
a possibilidade, felizmente rara, da pessoa ser tomada de um delírio persecutório,
delírio de grandeza ou acesso de pânico e, em virtude disto, tomar atitudes prejudiciais
a si e aos outros.
Fonte: Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas
Psicotrópicas - CEBRID |