AVC - Acidente Vascular Cerebral
1
- INTRODUÇÃO: Conhecido popularmente como "derrame
cerebral", o Acidente Vascular Cerebral (designado pela sigla AVC pelos médicos) é
a terceira causa de morte em vários países do mundo e a principal causa de
incapacitação física e mental.
O termo
"derrame" pode ser confundido com outras doenças. Segundo o dicionário de
português Aurélio, significa acúmulo de líquidos em cavidades naturais. Assim, temos o
derrame pleural, pericárdico ou articular. Ora, não existe cavidade natural no
cérebro; então, neste caso, não deveríamos utilizar esta expressão. |
Figura 1: Crânio aberto,
mostrando o osso, a dura-máter e a aracnóide.Fonte. Netter FH. coleção Ciba de
Ilustrações Médicas,arcelona, Salvat, 1987B |
O objetivo deste manual é informar aos pacientes e seus familiares sobre esta terrível
doença, quanto ao modo como ocorre, "fatores de risco" (são aqueles que
facilitam ou que estariam relacionados com a sua ocorrência), quando desconfiar, exames
complementares, o tratamento e a reabilitação (fisiatria e fisioterapia). Antes, porém,
é preciso entender um pouco sobre a estrutura cerebral e seu funcionamento. Não
vamos, também, expor todos os detalhes, para que a leitura não se torne complexa e
cansativa; além disso, seria quase impossível Na maioria das vezes, utilizaremos termos
mais simples, não técnicos. justamente para facilitar a compreensão do leigo.
Esperamos que o
leitor fique apto a debater com o médico várias questões, bem como esclarecer dúvidas,
com o objetivo de otimizar ao máximo o tratamento e a recuperação do paciente. |
2 - COMO É O CÉREBRO E SEU FUNCIONAMENTO? O
cérebro é envolto por umas peles" bem finas, que lhe dão proteção chamadas
meninges. A mais extensa é a dura-mater, depois vem a aracnóide e a pia-mater. Todas
estão dentro de uma caixa óssea" que é o crânio (Figura 1).
Para compreendermos melhor, vamos "dividir" o cérebro ao meio, na direção do
nariz para a nuca, e teremos a metade direita e esquerda. Cada metade, por sua vez,
apresenta regiões com determinadas funções conhecidas (figuras 2 e 3). Assim, existem
aquelas responsáveis pelos movimentos de partes do nosso corpo (motricidade), |
Figura 2: Cérebro visto de cima;
note que apresenta naturalmente duas metades (direita e esquerda). Fonte: Coleção Ciba
de Ilustrações Médicas, Barcelona, Salvat, 1987 |
pelas
sensações, pela coordenação dos movimentos, pela expressão verbal (fala) e
compreensão da mesma.Em geral, as funções motoras e sensitivas são "cruzadas" , ou
seja, a metade direita do cérebro comanda a metade esquerda do corpo e vice-versa. Em
outra palavras, se houver uma lesão na metade direita do cérebro, na área
correspondente ao movimento da mão, por exemplo, teremos uma diminuição da força da
mão esquerda. Existem regiões que apresentam muitas funções diferentes, como o
"tronco cerebral". Nele, por exemplo, está o centro que comanda a nossa
respiração, além de passar todos os comandos que vêm do cérebro.
Nosso cérebro, como todo o resto
do organismo, necessita de oxigênio e "alimento" para trabalhar normalmente.
Estas substâncias chegam a ele através do sangue, que circula dentro dos vasos
sangüíneos (artérias e veias)1.
1Artérias são os vasos que
levam sangue do coração para todo o organismo, enquanto que as veias fazem o contrário. |
Figura 3a: Corte de uma metade
do cérebro, mostrando algumas áreas e suas respectivas representações corporais. Note
que a face e a mão possuem grande território em relação ao restante do corpo. Mais
abaixo os nervos" caminham em direção ao tronco cerebral e, dai, para as
respectivas partes do corpo.Fonte: Netter FH: coleção Ciba de Ilustrações Médicas,
Barcelona, Salvat,1987 |
Figura 3b: Diagrama da
metade esquerda do cérebro, com a área de movimento (vermelho) e as áreas sensitivas
(azul).Fonte: Cunningham: Manual de Anatomia Prática ,São Paulo. Atheneu. 1976 |
As principais artérias que unem o coração ao cérebro são (figura 4): |
Carótidas: Uma de cada lado do
pescoço, enviando o sangue para a respectiva "metade" do cérebro, mas na parte
da frente.
Cerebrais médias: Uma
de cada lado, dentro do cérebro(nascem das carótidas).
Vertebrais: Uma de cada lado do
pescoço (por "dentro" dos ossos da coluna vertebral. Enviando sangue para a
parte de trás do cérebro.
Estas artérias, por sua vez, apresentam
suas respectivas ramificações. Para que o sangue fornecido ao cérebro seja adequado é
preciso: Um bom funcionamento do
coração, dos rins, dos pulmões etc;
que a pressão seja adequada;
|
Figura 4: Principais
artérias responsáveis pelo fornecimento de sangue ao cérebro. Qbserva-se a área de
trombose.Fonte: Netter FH: Coleção Ciba de Ilustrações Médicas. Barcelona, Salvat.
1987. |
- livre passagem do sangue através dos
vasos;
- que os constituintes do sangue esteja
adequados (glóbulos vermelhos, glicose, oxigênio, colesterol etc.).
Assim, quaisquer alterações para
mais ou para menos podem afetar a circulação cerebral e determinar um AVC. |
Observação: O sangue pode ser dividido em duas partes: uma
líquida, formada basicamente por água e outra que são os constituintes (figura 5):
- proteínas, glicose
(açúcar), glóbulos vermelhos (responsáveis pelo transporte de oxigênio e gás
carbônico), glóbulos brancos (responsáveis pela defesa do organismo), plaquetas
(responsáveis pela coagulação do sangue), etc.
3 - COMO
PODERÍAMOS DEFINIR AVC?
O AVC pode ser compreendido
como uma dificuldade, em maior ou menor grau, de fornecimento de sangue e seus
constituintes a uma determinada área do |
cérebro, determinando o sofrimento ou morte desta (neste
caso, chamado infarto) e, consequentemente, perda ou diminuição das respectivas
funções. Existem basicamente dois tipos de AVC: a) Isquêmico: quando não há passagem de sangue
para determinada área, por uma obstrução no vaso ou redução no fluxo sangüíneo do
corpo.
b) Hemorrágico: quando o vaso
sangüíneo se rompe, extravasando sangue. |
Figura 5: Desenho mostrando uma
artéria e alguns dos constituintes ao sangue.Fonte: Modificado de Netter FH: Coleção
Ciba de Ilustrações Médicas. Barcelona, Salvat, 1987 |
a)
O Acidente Vascular Cerebral lsguêmico pode ocorrer nas
seguintes situações: · Trombose arterial: é a formação de um coágulo de
sangue (como se o sangue "endurecesse", parecendo uma gelatina) dentro do vaso
(figura 6), geralmente sobre uma placa de gordura (aterosclerose), levando a uma
obstrução total ou parcial. Os locais mais freqüentes são as artérias carótidas e
cerebrais. Assim, se houver obstrução total da carótida direita, por exemplo, "a
parte da frente da metade direita do cérebro" estará comprometida, determinando
problemas (paralisia, perda de sensibilidade etc.) na metade esquerda do corpo.
· Embolia cerebral: surge quando
um coágulo (formado num coração doente por arritmia, problema de válvula, etc.) ou uma
placa de gordura (ateroma), que se desprende ou se quebra geralmente da artéria
carótida, correm através de uma artéria até encontrar um ponto mais estreito, não
conseguindo passar e obstruindo a passagem do sangue (figura 7). |
Esquema demostrando o processo de
trombose e embolia. Fonte:Netter FH: coleção Ciba de Ilustrações Médicas, Barcelona,
Salvat. 1987.
A isquemia pode ser definitiva ou
temporária. Neste caso, o sangue volta a passar após um período de minutos a horas e,
enquanto isso não ocorre, o paciente apresenta as alterações que serão citadas no
capítulo |
- Arterites: inflamação da artéria,
levando à obstrução da luz, ocasionada por vírus, alteração na imunidade (sistema de
defesa do organismo) etc.
- Vasoespasmo: é uma reação descontrolada
do vaso (artéria) que diminui muito o seu calibre a ponto de não permitir a passagem
adequada de sangue. Isto pode ocorrer diante de uma aumento exagerado da pressão arterial
(crise hipertensiva), complicação de uma enxaqueca (raro), ou de uma hemorragia
bubaracnóidea.
- mais raro ainda seria uma compressão do
lado de fora do vaso, por um tumor, uma vértebra fraturada ou um tiro na região do
pescoço.
- Redução do fluxo sangüíneo: uma parada
cardíaca ou um sangramento intenso em qualquer parte do corpo podem levar a um sofrimento
de determinada região do cérebro, causando isquemia.
|
5.
Este fenômeno é conhecido popularmente como "ameaça de derrame" (ou Ataque
Isquêmico Transitório, nos termos médicos) e o paciente não apresenta seqüelas.
Isto é multo importante, pois é um sinal de que pode ocorrer uma isquemia permanente a
qualquer momento, se nada for feito para evitá-las, ficando seqüelas para o paciente .b)
No Acidente Vascular Hemorrágico pode ocorrer extravasamento de sangue
para dentro do cérebro (hemorragia intracerebral - figura 8) ou para o lado de
fora, entre o cérebro e a aracnóide (já citada no capitulo 2), ocasionando a
hemorragia subacnóidea. Ambos podem ocorrer por crise hipertensiva, ou por uma
alteração sangüínea em que ocorra muita dificuldade de realizar a coagulação normal
(hemofilia, diminuição de plaquetas, algumas doenças reumáticas. etc.). Uma
má-formação congênita de um vaso como um
aneurisma2 cerebral, por
exemplo, também pode levar à hemorragia subaracnóidea. Já a hemorragia intracerebral
também pode ser causada por doenças como Angiopatia amilóide (mais comum em pessoas
idosas). |
Figura 8:Hemorragia
intracerebral. Observe como as estruturas dentro do cérebro estâo desviadas.Fonte:
Netter FH: Coleção Ciba de Ilustrações Módicas. Barcelona, Salvat, 1987.
Tanto na isquemia quanto na hemorragia
intracerebral, vão ocorrer mortes de células3, ocorrendo o infarto, Ao
redor deste, como "reação" do organismo, ocorre uma área de edema, ou
seja, como se fosse uma "infiltração" de água e outros constituintes
provenientes do sangue (proteínas, |
Quando ocorre uma hemorragia, o sangue extravasado vai ocupar um lugar do
cérebro, empurrando-o e comprimindo as suas estruturas. Lembremos porém que tudo isto
está ocorrendo dentro do crânio, uma caixa óssea" dura. Como ocorre um aumento do
volume intracraniano, a pressão intracraniana aumenta. Isto leva a uma dificuldade para
que chegue sangue ao restante do cérebro, ainda normal! piorando a lesão. Como
conseqüência disto, o paciente pode ficar sonolento, confuso ou em coma. 2Aneurisma:
dilatação localizada de uma artéria. cuja parede se torna mais fina neste ponto.
podendo romper-se
(Veja uma
imagem).
3Célula., menor unidade de
matéria viva que constitui os seres vivos. |
sais,
etc.), ocasionando um "inchaço", aumentando ainda mais a pressão
intracraniana. Esta região, chamada zona de penumbra, é muito importante, pois as
células aí existentes estão vivas e não funcionantes de forma adequada. Nela é
possível ocorrer recuperação total através de cuidados médicos urgentes, evitando
maiores seqüelas ao paciente. Recentemente, têm surgido muitos estudos sobre os chamados Radicais
livres. De maneira simples, seriam "substâncias" tóxicas produzidas pelo
próprio organismo, em várias situações de agressão, dentre elas o AVC. São multo
prejudiciais às células, podendo lesioná-las definitivamente.
Enfim, devemos compreender que
muita coisa acontece ao mesmo tempo quando este quadro ocorre, multas delas ainda
desconhecidas, Existem alterações do cálcio, de neurotransmissores (substâncias
que transmitem informações dentro do cérebro), etc; todas devendo ser combatidas ao
mesmo tempo.
4- FATORES DE RISCO
PARA O AVC:
Como já vimos, fator de risco é
aquele que pode facilitar a ocorrência do AVC. É imprescindível a sua caracterização
e devida correção, pois quase toda a prevenção do AVC é baseada no combate aos
fatores de risco. Os principais são:
a. Pressão Arterial: é
o principal fator de risco para AVC. Na população, o valor médio é de "12 por
8"; porém, cada pessoa tem o um valor de pressão, que deve ser determinado pelo seu
médico. Para estabelecê-lo, são necessárias algumas medidas para que se determine o
valor médio. Quando este valor estiver acima do normal daquela pessoa, temos a
hipertensão arterial. Tanto a pressão elevada quanto a baixa são prejudiciais, A melhor
solução é a prevenção! Devemos entender que qualquer um de nós pode se tornar
hipertenso. "Não é porque mediu uma vez, estava boa e nunca mais tem que se
preocupar"! Além disso, existem murtas pessoas que tomam corretamente a medicação
determinada porém uma só caixa! A pressão está boa e, então, cessam a medicação.
Ora, a pressão está boa justamente porque está seguindo o tratamento! Geralmente, é
preciso cuidar-se sempre, para que ela não suba inesperadamente. A hipertensão arterial
acelera o processo de aterosclerose, além de poder levar a uma ruptura de um vaso
sangüíneo ou a uma isquemia (Determine sua Pressão Arterial).
b. Doença Cardíaca:
qualquer doença cardíaca, em especial as que produzem arritmias, podem determinar um
AVC. "Se o coração não bater direito"; vai ocorrer uma dificuldade para o
sangue alcançara cérebro, além dos outros órgãos, podendo levara uma isquemia. As
principais situações em qúe isto pode ocorrer são: arritmias, infarto do miocárdio,
doença de Chagas, problemas nas válvulas etc.
(Determine seu Risco
Cardíaco).
c. Colesterol: o colesterol
é uma substância existente em todo o nosso corpo, presente nas gorduras animais; ele é
produzido principalmente no fígado e adquirido através da dieta rica em gorduras. Seus
níveis alterados, especialmente a elevação da fração LDL (mau colesterol, presente
nas gorduras saturadas, ou seja, aquelas de origem animal, como carnes, gema de ovo etc.)
ou a redução da fração HDL (bom colesterol) estão relacionados à formação das
placas de aterosclerose.
d. Fumo: sempre devemos
evitá-lo; é prejudicial à saúde em todos os aspectos, principalmente naquelas pessoas
que já têm outros fatores de risco aqui cita dos. Acelera o processo de aterosclerose,
torna o sangue mais grosso (concentrado) ao longo dos anos (aumentando a quantidade de
glóbulos vermelhos) e aumenta o risco de hipertensão arterial
(Determine sua
dependência ao fumo).
e.Uso excessivo de
bebidas alcoólicas: quando isso ocorre por murta tempo, os niveis de
colesterol se elevam; além disso, a pessoa tem maior propensão à hipertensão arterial.
f. Diabetes Mellitus: é uma doença em que o nível de
açúcar (glicose) no sangue está elevado. A medida da glicose no sangue é o exame de
glicemia. Se um portador desta doença tiver sua glicemia controlada, tem AVC menos grave
do que aquele que não o controla.
g. Idade: quanto mais idosa
uma pessoa, maior a sua probabilidade de ter um AVC. Isso não impede que uma pessoa jovem
possa ter.
h. Sexo: até os 51 anos de
idade os homens ter maior propensão do que as mulheres; depois desta idade, o risco
praticamente se iguala.
i. Raça: é mais
freqüente na raça negra.
j. História de doença
vascular anterior: pessoas que já tiveram AVC, "ameaça de
derrame", infarto do miocárdio (coração) ou doença vascular de membros (Trombose
etc.), tem maior probabilidade de ter um AVC.
k. Obesidade: aumenta o risco de diabetes, de hipertensão arterial e
de aterosclerose; assim, indiretamente, aumenta o risco de AVC.
l. Sangue muito concentrado:
isso ocorre, por exemplo, quando a pessoa fica desidratada gravemente ou existe um aumento
dos glóbulos vermelhos. Este último ocorre em pessoas que apresentam doenças
pulmonares crônicas (quer dizer, por muitos anos), ou que vivem em grandes altitudes. Em
ambos os casos, o organismo precisa compensar a falta de oxigênio, aumentando a
produção dos glóbulos vermelhos, para não deixar "escapar" qualquer
oxigênio que chega aos pulmões.
m. Anticoncepcionais hormonais:
os mais utilizados são as pilulos mas o médico deve avaliar e orientar cada caso.
Atualmente se acredita que as pílulas com baixo teor hormonal, em mulheres que não fumam
e não tenham outros fatores de risco, não aumentam a probabilidade de aparecimento de
AVC.
n.Sedentarismo: a
falta de atividades físicas leva à obesidade, predispondo ao diabetes, à hipertensão e
o aumento do colesterol.(Determine seu Nível de Aptidão Física).
"Para entendermos como se
combinam todos estes fatores, imaginem um cano (Tubo) por onde passa a água. Agora, vamos
acrescentando lama a esta água e a velocidade da mesma começará a diminuir. A lama
corresponderia aos constituintes do sangue. Finalmente, vamos colocar uns obstáculos de
"cimento colante" dentro deste tubo (correspondendo as placas de aterosclerose);
Logo, vamos notar que a lama vai começar a aderir a este cimento, aumentando ainda mais
as dificuldades para a água passar".
5- QUANDO DESCONFIAR
QUE UMA PESSOA ESTÁ APRESENTANDO UM AVC?
O AVC manifesta-se de modo
diferente em cada paciente, pois depende da área do cérebro atingida, do tamanho da
mesma, do tipo (Isquêmico ou Hemorrágico), do estado geral do paciente, etc.
De maneira geral, a principal característica
é a rapidez com que aparece as alterações; em questão de segundos a horas (de
maneira abrupta ou rapidamente progressiva). Podemos chamar a atenção para aquelas mais
comuns:
Fraqueza ou adormecimento de um
membro ou de um lado do corpo, com dificuldade para se movimentar;
Alteração da linguagem, passando
a falar "enrolado" ou sem conseguir se expressar, ou ainda sem conseguir
entender o que lhe é dito;
perda de visão de um olho, ou
parte do campo visual de ambos os olhos;
dor de cabeça súbita, semelhante
a uma "paulada, sem causa aparente, seguida de vômitos, sonolência ou coma; perda
de memória, confusão mental e dificuldades para executar tarefas habituais (de início
rápido).
Estas alterações não são
exclusivas do AVC. Apenas servem de alerta de que algo está acontecendo, devendo procurar
auxílio médico imediatamente.
Devemos chamar a atenção para
aqueles pacientes mais idosos, acamados por quaisquer motivos, inclusive por um
"derrame" prévio. Neste caso, eles têm vários fatores de risco e é muito
comum passarem desapercebidas estas alterações. É importante prestarmos atenção na
capacidade habitual de movimentos de seus membros, como eles costumam falar, na quantidade
e horário normal de sono. Se houver piora (por exemplo, "antes erguia a mão até a
cabeça, agora o faz pouco ou nem movimenta"), levar ao médico e, de preferência,
prestar estas informações a ele.
6- EXAMES
COMPLEMENTARES
Exames complementares são aqueles
solicitados pelo médico com a finalidade de confirmar ou afastar o diagnóstico de uma
doença que está suspeitando descobrir a causa, verificar a gravidade e a evolução e
certificar-se do local da lesão.
Assim, para que o médico possa
determinar os exames necessários, é preciso sua prévia avaliação, baseada nas
informações dos acompanhantes e, quando possível, do próprio paciente, bem como o
exame clínico e neurológico do mesmo.
As informações mais importantes,
em geral, são: o que o paciente sente, desde quando , a maneira que começou a adoecer
(rápida, progressiva etc...), como o paciente passou do início até a admissão ao
hospital, medicamentos, doenças prévias e atuais etc..
Os exames mais comuns são:
exames laboratoriais de sangue,
urina, líquido cefalorraquiano (líquor)
avaliação cardíaca e pulmonar,
eletrocardiograma, ecocardiograma, radiografia do tórax;
exames de imagem do crânio
(cérebro), tomografia computadorizada, ressonância nuclear magnética, angiografia
cerebral;
outros exames: ultrassonografia das
artérias carótidas e vertebrais, etc.
7- TRATAMENTO
Devemos lembrar que o AVC é uma
urgência, tanto quanto o infarto do coração. Em outras palavras, diante de uma
suspeita, levar o paciente imediatamente ao Pronto Socorro.
Evite medicar sem orientação
médica, por melhor que seja a sua intenção. Como exemplo, muitas vezes a pressão
arterial está elevada e, na ansiedade de querer baixá-la, corre-se o risco de exagerar.
Neste caso, a pressão baixa dificultará a chegada do sangue ao cérebro, complicando o
quadro.
No hospital, o médico
responsável deverá se preocupar, entre vários parâmetros, com uma respiração e
hidratação adequada, com uma dieta adequada (seja via oral ou através do sangue),
cuidados para evitar feridas (escaras) devido a persistência do paciente numa
mesma posição, controle da pressão e da temperatura (evitando complicações
infecciosas, principalmente pulmonares), prevenção de trombose nas veias das pernas,
etc.. Além de tudo, existe o tratamento específico: correção dos distúrbios da
coagulação sangüínea, prevenção do vaso espasmo (1á explicado), evitar aumento da zona
de penumbra (devido ao edema) combater os radicais livres, etc...
Devemos entender que "cada
caso é um caso". Alguns podem necessitar de tratamento cirúrgico, como drenagem de
um hematoma (coágulo) ou para a correção de uma má formação, por exemplo um
aneurisma2.
Hoje sabemos que outras áreas do
cérebro, não afetadas por uma lesão, podem assumir determinadas funções realizadas
por aquelas que "morreram"; e, ainda, podem ocorrer regenerações de algumas
pequenas partes. A este conjunto de fenômenos chamamos de neuroplasticidade. Existem
pesquisas de medicamentos para potencializar este fenômeno.
O tratamento. em todos os seus
aspectos, deve ser precoce, com o que se obtém melhores resultados.
Após a alta hospitalar, o
tratamento continua. O médico responsável dará a receita dos medicamentos a serem
tomados, assim como todas as orientações necessárias.
Uma das medidas a
serem tomadas pelos familiares é procurar algum serviço de assistência social onde o
paciente trabalho do hospital onde foi atendido ou de serviço público para providenciar
o recebimento do seguro saúde, aposentadoria ou equivalente.
Tem início. então o tratamento
ambulatorial, com o neurologista e toda uma equipe de especialistas em diferentes áreas,
que serão requisitados de acordo com cada caso; fisiatria e fisioterapia, fonoaudiologia.
psicólogo, terapia ocupacional, entre outros. Em geral, o médico responsável dará
estas orientações, além de coordenar a equipe.
A família deve ficar atenta à
eventuais complicações que possam surgir sendo os sintomas mais freqüentes;
dor no peito ou respiração mais
curta;
sangramento, principalmente se
estiver tomando remédios para "afinar" o sangue (anticoagulantes);
dor de estômago, indigestão ou
soluços frequentes, especialmente se estiver tomando ácido acetil salicílico (AAS,
Aspirina etc.);
convulsões ou perda de
consciência;
dor para urinar;
febre;
alteração do comportamento,
depressão ou agressividade;
piora da força;
"prisão de ventre"
(obstipação intestinal) prolongada.
8 - A REABILITAÇÃO
DO PACIENTE
A reabilitação é o conjunto de
procedimentos que visam restabelecer, quando possível, uma função perdida pelo paciente
temporária ou permanentemente, realizada por uma equipe multidisciplinar, coordenada
preferencialmente pelo médico fisiatra:
Com relação ao paciente
acometido pelo AVC, os objetivos de reabilitação são:
a - Prevenir complicações;
as mais comuns são as deformidades. Com a paralisação dos músculos e a instalação de
uma rigidez (chamada de espasticidade) nas partes do corpo afetadas, ocorre a perda da
mobilidade das articulações, que passam a adotar posições erradas, ficando deformadas
e impedindo o paciente de realizar certos movimentos, como estender os joelhos e
cotovelos, andar, flexionar os braços, etc. Outras complicações comuns são as
síndromes álgicas (dores difusas pelo corpo), o ombro doloroso, doenças pulmonares
(broncopneumonia), a trombose venosa profunda, as escaras (feridas formadas pela pressão
contínua em um determinado ponto), entre outras. Todas estas complicações podem ser
evitadas através da movimentação com exercícios corretos, com uso de órteses
(aparelhos para manter os ombros posicionados corretamente), procedimentos visando
diminuir a espasticidade e uso de medicamentos para dor, prescritos pelo médico.
b - Recuperar ao máximo as funções cerebrais comprometidas pelo AVC, que podem ser
temporárias ou permanentes. Isto pode ser feito através do atendimento precoce ao
paciente, tanto do ponto de vista clínico quanto reabilitacional, através da
realização de exercícios, treino de atividades e uso de equipamentos especiais que
ajudem a preservar os movimentos e a saúde das articulações.
c - Devolver o paciente ao convívio social, tanto na família quanto no trabalho,
reintegrando-o com a melhor qualidade de vida possível.
De um modo geral, alguns princípios de reabilitação podem ser iniciados no primeiro ou
segundo dia do AVC, como posicionamentos adequados e movimentos passivos, visando prevenir
complicações secundárias, com o paciente ainda hospitalizado.
Ao sair do hospital, o paciente deve continuar seu tratamento de reabilitação, a nível
ambulatorial, com o fisiatra, num centro especializado, se necessário, ou em casa,
seguindo as orientações dadas pela equipe. E é neste momento que entra o papel
fundamental da família, fornecendo a infra-estrutura necessária para o amplo
restabelecimento do paciente, da seguinte forma:
a. Dando corretamente as medicações prescritas (lembre-se que o paciente com AVC pode
ter alterações de memória e se esquecer dos remédios e horários).
b. Promovendo o comparecimento às consultas e terapias.
c. Fornecendo um ambiente de tranqüilidade e compreensão, para que o paciente não se
deixe levar pela depressão e/ou agressividade, fato comum nestes casos.
d. Motivando o paciente:
- evitando que durma o dia todo;
- colocando roupas confortáveis durante o
dia (agasalhos esportivos, abrigos. etc.);
- tornando as roupas fáceis de serem
colocadas e retiradas (uso de velcro, botões de pressão, elásticos, entre outros);
- utilizando o pijama somente à noite;
- colocando-o sentado na cama ou no sofá
(de preferência), sempre que possível;
- levando-o a passeios dentro e fora de casa
com o auxílio de cadeira de rodas ou caminhando com a ajuda de aparelhos (órteses) ou
bengalas;
- dando pequenas tarefas possíveis de serem
realizadas (sob a orientação do terapeuta ocupacional);
- tentando estimular a retomada das
atividades profissionais ou de alguma atividade que ele possa exercer;
- adaptando o interior da casa, com
corrimões, rampas e pouca mobila, para facilitar a locomoção do paciente (procurar não
descaracterizar o ambiente onde ele vivia; alterar a disposição dos móveis pode
confundir e desorientar os pacientes mais idosos);
- a utilizar o banheiro para suas
necessidades e tomar o banho
e. Dando uma dieta adequada:
- com pouco sal (para evitar o edema nas
partes paralisadas);
- com pouca gordura;
- leve (para facilitar a digestão);
- rica em fibras e líquidos, para evitar
uma complicação mais comum, o ressecamento intestinal (cabe ao médico indicar ou não o
uso de laxantes).
f. Auxiliando a realização de atividades e exercícios orientados para casa (esses
exercícios são inicialmente passivos, ou seja, o paciente não os realiza
voluntariamente; depois passam a ser ativos, onde solicita-se para que ele realize
determinados movimentos),
g. Posicionando corretamente os braços ou pernas afetados.
De um modo geral, alguns princípios de reabilitação podem ser iniciados no primeiro ou
segundo dia do A V C, como posicionamentos adequados e movimentos passivos, visando
prevenir complicações secundárias, com o paciente ainda hospitalizado. Ao sair do
hospital, o paciente deve continuar seu tratamento de reabilitação, a nível
ambulatorial num centro especializado, se necessário, ou em casa, seguindo as
orientações dadas pela equipe. Neste momento é que entra o papel fundamental da
família, fornecendo a infra-estrutura necessária para o amplo restabelecimento do
paciente.
(Este texto foi extraído e modificado
do informativo de mesmo título – autores: Drs. Ibsen T. Damiani e Edson I. Yokoo,
revisor Dr. Rubens J. Gagliardi – Editado por TRB PHARMA – em 1995, nossos
agradecimentos àquela industria farmacêutica e autores).
Fonte: Hospital Tacchini |
|