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Estudo foi realizado pela Unidade de Estudos de Álcool e Outras Drogas (UNIAD) da Unifesp, com apoio da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD). Os resultados mostram uma prevalência da violência entre parceiros íntimos – incluindo episódios de agressão mútua – de 10,7% para homem contra mulher e de 14,6% para mulher contra homem. Os entrevistados do sexo masculino afirmaram que consumiram bebida alcoólica em 38,1% dos atos, contra apenas 9,2% entre o sexo feminino. Já o índice de consumo de álcool antes do episódio de violência pela parceira do homem foi de 30,8% dos casos e do parceiro da mulher em 44%.
Os dados fazem parte do I Levantamento Nacional sobre Padrões de Consumo de Álcool no Brasil. Os resultados trazem um conhecimento maior sobre a relação direta da violência entre parceiros íntimos (VPI) e o consumo de álcool. A análise, que será tema da tese de doutorado do psiquiatra Marcos Zaleski, envolveu a participação de apenas um parceiro(a) de cada um dos 1.445 domicílios abordados em 143 municípios brasileiros, entre novembro de 2005 e abril de 2006.
O estudo foi coordenado pelo psiquiatra Ronaldo Laranjeira e pela psicóloga Ilana Pinsky, ambos professores da Unifesp e membros da Uniad, e supervisionado por Raul Caetano, da Escola de Saúde Pública da Universidade do Sudoeste do Texas – UTSW, em Dallas, EUA.
Na pesquisa, 631 homens e 814 mulheres que estão casados ou moram com alguém num relacionamento conjugal responderam sobre a ocorrência de diferentes tipos de comportamento violento e o uso concomitante de bebida alcoólica nos 12 meses que antecederam a entrevista. Foram classificados como atos de violência leves a ocorrência de empurrões, sacudidas, tapas e arremesso de objetos sobre o parceiro. Chutar ou morder, bater no companheiro com algo, queimar, sexo forçado, ameaças ou uso de facas e arma de fogo se enquadraram como atos graves.
O tipo de violência leve mais prevalente perpetrado por homens (7,4%) e mulheres (9,3%) foi “empurrar, agarrar ou sacudir”. A agressão com tapas foi uma das mais comuns, relatada por 4,2% dos homens e por 3,9% das mulheres em episódios de vitimização. Os homens, entretanto, relatam um grau de violência mútua (5,3%) mais baixo do que as mulheres (6,3%).
Entre os atos violentos considerados graves e que foram encontrados em índices mais elevados, as mulheres informam terem sido vítimas em casos de golpes com objetos (2,2%) e sexo forçado (1,2%). Os homens informam que as duas agressões mais prevalentes contra eles foram os golpes com objetos (2,9%) e ameaças com faca (1,5%).
Consumo de álcool e tipo de agressão
De acordo com Zaleski, o fato de os relatos de homens alcoolizados durante os eventos de violência ser aproximadamente quatro vezes mais freqüentes do que entre as mulheres talvez reflita apenas as taxas de consumo de álcool. No entanto, “estudos internacionais sugerem que a associação entre álcool e violência entre parceiros inclui não apenas o consumo de álcool durante o evento, mas também a freqüência e os padrões do consumo, presença ou ausência de problemas relativos ao álcool ou à dependência”, afirma o psiquiatra.
Quando o consumo de álcool foi feito pelos homens, os índices foram os mesmos para os episódios de agressão mútua ou individual (16,3%). Entre as mulheres questionadas na pesquisa, os números foram bem mais baixos. Cerca de 2% e 1,4%, respectivamente. A posição como vítima de agressões envolvendo o consumo de bebida foi semelhante para ambos os sexos, em torno de 5,5%.
Os dados fornecidos pelo entrevistado(a) com relação ao comportamento de seu companheiro(a) confirmam que a bebida torna o homem mais violento. Tanto para os eventos de agressões mútuas (20,6%), quanto para aqueles em que, segundo a mulher entrevistada, seu companheiro praticou a violência (14%), os índices foram maiores quando comparados ao que informam os homens em relação às suas parceiras que bebem durante o evento – 5,9% e 9%, respectivamente. As mulheres também são mais vitimizadas quando o companheiro consome álcool: 16% contra 10%.
Problema de saúde pública
A violência entre parceiros íntimos vem sendo reconhecida mundialmente como um problema de saúde pública, segundo Zaleski.
O psiquiatra explica que vários estudos internacionais com base na população norte-americana e conduzidos ao longo da última década mostram que o índice de agressões entre parceiros íntimos varia entre 17% e 39%. Nesses estudos, a probabilidade de perpetração de homens contra mulheres é até 8,94 vezes mais alta quando os homens bebem.
Estudo clínico nos EUA demonstrou que entre 50% e 60% dos indivíduos que buscam tratamento para a dependência de álcool registraram VPI no ano anterior. Outro trabalho daquele país também constatou que aproximadamente 20% das visitas por trauma ao departamento de emergência e 25% dos homicídios contra mulheres envolviam VPI.
Para a psicóloga Ilana Pinsky, que é pesquisadora da UNIAD e orientadora da pesquisa, o que se espera é que esse primeiro estudo nacional sobre VPI e o consumo de álcool entre casais brasileiros possa servir como referência para políticas e futuras diretrizes governamentais sobre violência doméstica no país.
Fonte: Assessoria de Imprensa da Unifesp