Estudo da Faculdade de Educação Física da UnB comprova que o acréscimo da proteína glutamina na dieta não auxilia no ganho de massa magra durante musculação
A suplementação alimentar associada à musculação é a saída utilizada por muitos atletas e praticantes de atividades físicas para obter ganho de massa muscular e força. Complexos a base de proteína são alguns dos mais usados por muitos praticantes de musculação. Uma dessas substâncias, a glutamina, tem sido amplamente difundida nas academias de todo o país e até utilizada sem qualquer orientação. Porém, quem optou por esse suplemento com intenção de aumentar os músculos jogou seu dinheiro fora.
Segundo estudo desenvolvido pela fisiologista do exercício Keila Elizabeth Fontana, da Faculdade de Educação Física (FEF) da Universidade de Brasília (UnB), a glutamina não tem qualquer ação sobre a hipertrofia muscular de quem pratica musculação. O estudo testou um programa de exercícios com pesos associados à suplementação com glutamina e outra substância também bastante utilizada em academias, a creatina.
Segundo Keila, apesar de a glutamina não ser apropriada para o ganho de massa e força, tem aplicação relevante em trabalhos de grande desgaste físico. "Ela melhora as condições imunológicas, o que é importante para quem explora o máximo do corpo", reforça a pesquisadora. Quando o exercício é intenso, pode haver o chamado supertreinamento, que leva ao estresse físico e deixa a pessoa vulnerável a infecções. "Então, impedir a queda da imunidade permite ir mais longe com os treinos", argumenta.
O treinamento de 32 homens entre 18 e 30 anos foi acompanhado por oito semanas. Eles se exercitaram uma hora e meia por dia, quatro vezes por semana, divididos em três grupos: dois de 11 pessoas e um de 10. Os integrantes de um desses tomaram glutamina; os de outro, creatina; e os do terceiro grupo receberam placebo. Tanto voluntários quanto pesquisadores não sabiam quem tomava o quê, em uma técnica conhecida como duplo cego. No período de testes, a alimentação dos avaliados foi controlada para evitar resultados diferentes em função da nutrição. Atividades físicas paralelas também foram monitoradas para que qualquer impacto sobre a musculatura fosse exclusivamente motivado pelos exercícios do programa.
Todos ingeriram doses diárias de suplemento ou placebo 30 minutos após o treino. Na primeira semana, foi dada uma dose de impacto, de 0,3 grama para cada quilo de peso da pessoa. Durante as sete semanas seguintes, a quantidade diária foi dez vezes menor, de 0,03 grama, na chamada dose de manutenção. Para se ter uma idéia, uma colher de chá rasa equivale, mais ou menos, a 5 gramas. Os compostos, em pó, eram misturados a sucos ou qualquer outra bebida doce, já que o açúcar auxilia na absorção da proteína.
Entre os voluntários acompanhados, apenas um dos que tomaram creatina não teve gripes ou resfriados no período de treinamento. No grupo do placebo, 11 ficaram gripados, ou seja, todos os voluntários. Já daqueles que tomaram a glutamina, apenas três tiveram algum tipo de infecção. O estudo de Keila identificou essa propriedade da glutamina em musculação, mas a característica já havia sido descrita para atividades aeróbicas intensas, como a maratona.
Keila pretendia saber se a suplementação resultava em aumento de massa corporal magra superior ao verificado sem a ingestão de suplementos. Os perímetros de braço e perna, a quantidade de gordura, força, potência anaeróbica, capacidade aeróbica e condições metabólicas foram outros parâmetros comparados à pratica do exercício sem suplementação.
Os resultados mostraram que aqueles que ingeriram creatina ganharam mais que o dobro de massa magra em relação aos que tomaram placebo ou glutamina. O grupo da creatina teve, em média, 3,3% de ganho sobre sua massa anterior ao início dos exercícios, enquanto os da glutamina e placebo registraram 1,5%. No quesito força, quem tomou creatina verificou aumento em torno de 50% superior aos demais. O grupo da creatina, após dois meses de treinamentos, conseguiu elevar cargas 12% mais pesadas com os braços e 34% com as pernas. Os outros grupos aumentaram a carga máxima suportada em 7% para braço e 20% para perna.
Esses números foram verificados em homens. Mas acredita-se que as mulheres tenham resultados similares. "Mulheres que usam creatina provavelmente também ganham massa magra. Para a glutamina as conclusões devem ser as mesmas: não haverá hipertrofia", diz Keila. Não se pode afirmar, porém, que a proporção de hipertrofia se mantenha a mesma, já que questões hormonais tornam as malhadoras menos suscetíveis ao aumento de massa. "O fato de as mulheres terem mais dificuldade para ganhar massa faz da creatina uma opção interessante", confirma.
Glutamina não funciona para hipertrofia, é um grande engodo
A professora afirma que diversas casas especializadas em suplementação esportiva indicam e vendem a glutamina para ganho de massa muscular. "Glutamina não funciona para hipertrofia, é um grande engodo", alerta. Além de apresentar resultados de aumento dos músculos, o suplemento é, em média, três vezes mais caro do que a creatina.
Até a conclusão do estudo, não havia no país um trabalho sobre a associação da glutamina a exercícios de musculação. "É preciso ter cuidado: não se pode tomar nada só porque alguém disse que funciona. A orientação de um nutricionista e de um profissional de educação física é indispensável", afirma Keila. O conselho é valido não só para evitar perder dinheiro. Ingerir proteína em excesso, seja creatina, glutamina ou qualquer outra, sobrecarrega o fígado e o rim, o que pode acarretar problemas de saúde.
Fonte: Assessoria de Comunicação da Universidade de Brasília