DEFINIÇÃO
Síndrome clínica que resulta da
estimulação excessiva dos receptores da acetilcolina. É caracterizada por alterações
do estado mental, fraqueza muscular e atividade secretória excessiva.
Acetilcolina é o neurotransmissor em todas
terminações nervosas autonômicas preganglionares (receptores nicotínicos), todas
terminações parassimpáticas e algumas terminações nervosas simpáticas
posganglionares (receptores muscarínicos), junção neuromuscular (receptores
nicotínicos) e em algumas sinapses do SNC.
A acetilcolina sofre contínua degradação
pela acetilcolinesterase. A estimulação excessiva dos receptores da acetilcolina ocorre
como resultado da inibição da acetilcolinesterase ou pela estimulação direta dos
receptores da acetilcolina.
CAUSAS TÓXICAS
Inibição da acetilcolinesterase
Praguicidas carbamatos
Praguicidas organofosforados
Armas químicas de organofosforados
Sarin
Soman
Tabun
Fisostigmina
Neostigmina
Piridostigmina
CAUSAS NÃO-TÓXICAS
Nenhuma.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
As manifestações clínicas de atividade colinérgica excessiva
podem ser divididas em efeitos muscarínicos, nicotínicos e centrais. A gravidade
relativa destes efeitos difere entre casos individuais.
Os efeitos muscarínicos são aqueles resultantes da
hiperatividade parassimpática e incluem bradicardia, miose puntiforme, sudorese, visão
borrada, lacrimejamento, secreção brônquica excessiva, dispnéia, tosse, vômitos, dor
abdominal, diarréia e incontinência urinária e fecal.
Os efeitos nicotínicos são aqueles resultantes da
hiperatividade simpática e disfunção neuromuscular, e incluem taquicardia,
hipertensão, pupilas dilatadas, fasciculaçÕes e fraqueza muscular.
Os efeitos centrais podem incluir agitação, psicoses,
confusão, coma e convulsões.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
A síndrome clínica completa usualmente não causa dificuldade
para o diagnóstico.
Quando apenas algumas manifestações da intoxicação
predominam, as seguintes condições podem ser consideradas:
- Asma brônquica
- Gastroenterite
- Crise miastênica
- Edema pulmonar
- Estado epiléptico de outras etiologias
INVESTIGAÇÕES RELEVANTES
- Gasometria arterial
- Raio X de tórax
- ECG
- Eletrólitos, uréia e creatinina
- Glicemia
- Oximetria
- Atividade de acetilcolinesterase sérica e eritrocitária
A diminuição da atividade da acetilcolinesterase confirma o
diagnóstico de intoxicações por carbamatos ou organofosforados, mas não auxilia no
tratamento agudo da síndrome colinérgica.
TRATAMENTO
Nos casos graves, a prioridade inicial é assegurar vias
aéreas, manter ventilação e oxigenação, acesso endovenoso e controlar convulsões com
diazepam endovenoso.
Realizar descontaminação apropriada conforme o agente tóxico
e a via de exposição.
A atropina é o antídoto específico para os efeitos
muscarínicos e deve ser administrada assim que se suspeitar o diagnóstico. Não tem
efeito em receptores nicotínicos.. Dose excessiva de atropina resulta em agitação e
taquicardia. O paciente deve permanecer em observação e doses adicionais de atropina
devem ser administradas somente se necessário. Quando o acesso venoso não é
disponível, a atropina pode ser administrada pelas vias intramuscular, subcutânea,
endotraqueal ou intraóssea (crianças).
Nos casos de síndrome colinérgica moderados à graves de
intoxicações causadas por organofosforados ou armas químicas, um reativador da
acetilcolinesterase deve ser administrado após a atropina (se disponível), pralidoxima
ou obidoxima. Alternativamente, podem ser utilizadas doses intermitentes de pralidoxima,
via endovenosa ou intramuscular. Em pacientes com intoxicações graves, doses maiores que
estas podem ser necessárias para atingir a reativação da enzima.
Os pacientes devem permanecer em observação após a
interrupção da terapia com oximas. A recorrência de manifestações clínicas de
toxicidade indica a necessidade de terapia adicional com oximas.
EVOLUÇÃO CLÍNICA E MONITORIZAÇÃO
A gravidade e a duração da síndrome clínica dependem do
agente responsável e da dose. É relativamente benigna e de curta duração nas overdoses
de drogas colinérgicas. Intoxicações mais graves são causadas pelos compostos
carbamatos e organofosforados, especialmente após ingestão. As manifestações clínicas
observadas nas intoxicações por carbamatos são usualmente de duração mais curta e
menos graves que aquelas provocadas por compostos organofosforados .
Aqueles casos mais graves que requerem tratamento de suporte e
terapia com antídotos devem ser tratados preferencialmente em unidade de terapia
intensiva. Não devem ser dispensados do Hospital ate que permaneçam assintomáticos pelo
menos por 24 horas após a interrupção do tratamento de todos os antídotos.
O termo " Síndrome Intermediária " é aplicado para
o aparecimento de fraqueza muscular recorrente alguns dias após a exposição. Pode estar
associado com terapia inadequada com oximas.
A atividade de colinesterase muitas vezes permanece baixa por
semanas após a exposição aguda, apesar da resolução completa de todos os sintomas e
sinais de toxicidade.
COMPLICAÇÕES TARDIAS
- Neuropatia periférica
- Seqüela neuropsiquiátrica
AUTORES / REVISOR(ES)
Autor(es): Ryszard Feldman & Janusz Szajewski. Warsaw
Poisons Control Centre, Szpital Praski, Pl. Weteranow 4, 03-701Warszawa, Poland (February,
1998).
Revisor(es): Geneva 8/98, D. Jacobsen, L. Murray, J Pronczuk; Birmingham 3/99: T.
Meredith, L. Murray, A. Nantel, J. Szajewski.
Tradutor(es): São Paulo, 2001. Dr Ligia Fruchtengarten.
Fonte: IPCS
INTOX
Obs.: O
tratamento proposto é apenas para fins didáticos, não se automedique, a automedicação
pode ser perigosa. Caso necessário procure um médico para maiores informações, somente
ele pode lhe prescrever alguma medicação. |