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Professora:
Elke Oliveira
Membro do Gease
Coordenadora Academia Malhart
Personal Trainer
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Introdução
A diversidade entre os seres humanos sempre foi alvo de estudos / discussões e
os temas variam desde humor negro até questões biológicas e sócio-culturais. Uma
das maiores controvérsias acontece quando comparamos homem e mulher, tanto que o
conceito de gênero surgiu em função (entre outros motivos de ordem política) da
subordinação e da desigualdade existente nas relações entre os sexos. Durante
muito tempo as mulheres foram consideradas seres inferiores física e
intelectualmente, sendo submetidas a uma condição de subserviência. Para elas
eram reservados os papéis de esposas e mães, não possuíam o direito de estudar
ou trabalhar, não podiam votar ou debater temas como violência e sexualidade.
O incentivo a prática desportiva para as mulheres teve início na década de 30.
Isso gerou duas correntes. Uma de incentivo, que via o esporte como meio de
socialização e prática de atividade física; e outra totalmente contra, que temia
quebrar paradigmas sociais e sexuais instituídos para cada sexo. Isto fez com
que a participação significativa de meninas e mulheres nas competições ocorresse
somente 40 anos depois (década de 70). Atualmente as atividades atléticas estão
muito mais acessíveis e tem demonstrado resultados surpreendentes, levando os
pesquisadores a se questionarem sobre as diferenças na capacidade física entre
mulheres e homens. Os temas mais abordados têm sido com relação à composição
corporal e desempenho atlético. Neste texto tentaremos esclarecer algumas
dúvidas sobre a diferença entre mulheres e homens quando comparamos a qualidade
física força.
O número de mulheres que utilizam o treinamento de força como parte do seu
planejamento desportivo, condicionamento físico e estética tem aumentado
consideravelmente. Uma prova é a crescente utilização das academias (salas de
musculação), centros de treinamentos (atletas) e uma maior popularização das
provas de fisiculturismo, levantamento de peso e os concursos de fitness.
Quando ouvimos falar em força, as mulheres são sempre consideradas o sexo
frágil. Nos primeiros estudos, os resultados afirmavam que os homens eram, para
membros inferiors, 30% mais fortes que as mulheres e no caso dos membros
superiores estes valores chegavam a 60% (Wilmore e Costill 2001). Será
isto sempre verdade?
Variáveis que influenciam na força muscular
A força muscular depende de muitas variáveis como: tipo de contração realizada
(concêntrica, excêntrica, isométrica), segmento corporal, tipo de movimento,
sistema de alavancas, tipo de teste (tabela1) e proporção de massa corporal
magra.
Tabela 1
Referencia |
Movimento |
Tipo de teste |
Mulher % do homem |
Cureton
et al 1988 |
Extensão do cotovelo |
1RM |
42 |
Miller et
al 1992 |
Extensão do joelho |
1RM |
62 |
Miller et
al 1992 |
Extensão do joelho |
IM |
52 |
Colliander e Tesh 1990 |
Extensão do joelho |
PTIC 60° |
69 |
Wilmore
1974 |
Supino |
1Rm |
37 |
Por exemplo, a força da mulher no teste de 1RM em uma máquina extensora não
chega a 50% da dos homens (Cureton et al 1988); no entanto, o pico de
torque concêntrico, na mesma máquina, em 90°/s das mulheres é de 78% do torque
dos homens (Colliander e Tesch 1990). Wilmore em 1974 relatou que
1RM do supino das mulheres é 37% do supino dos homens. Se o valor da carga for
expresso relativamente à massa corporal magra, esse valor aumenta para 46/55%.
Já a força isométrica máxima no movimento de pressão de pernas equivale a 73%
dos valores masculinos, chegando a 92 /104% quando comparadas de forma relativa
(massa magra).
Na verdade as qualidades inatas do músculo e seus mecanismos de controle motor
são similares para as mulheres e homens, como verificou Schantz et al em
1983, através de tomografia computadorizada. Outros dados deste mesmo estudo
confirmaram que os níveis absolutos de força foram maiores nos homens, porém não
observaram diferenças quando a força foi expressa por unidade de área do
músculo.
Outros fatores que podem influenciar no desenvolvimento da força muscular são:
recrutamento e sincronização de unidades motoras (McDonagh e Davies 1994),
comprimento inicial do músculo ativado, ângulo e velocidade da ação articular,
armazenamento de energia e mudança no comprimento do músculo (Wilmore e
Costill 2001). Não podemos esquecer que o treinamento (musculação) também
influencia na quantidade de força.
Principais Alterações promovidas pelo treinamento de força em mulheres:
Ganho de força (próximo ao dos homens);
Perda de massa corporal total (ficam aparentemente mais magras);
Perda de massa gorda;
Perda de gordura relativa;
Ganhos de massa magra isenta de gordura;
Tecido ósseo e conjuntivo sofrem alterações (aumento da densidade óssea);
Diminui o risco de lesões (esporte);
Aumenta o metabolismo de repouso (contribuindo para o emagrecimento);
Curiosidades
Segundo Wells 1978, as mulheres são tão ou até mais beneficiadas com o
treinamento de força quanto o homem.
Treinamentos de força para mudanças na composição corporal são da mesma
magnitude em homens e mulheres (Fleck & Kraemer 1999)
Em um treinamento de força idêntico as mulheres ganham força muscular na mesma
velocidade ou maior do que os homens (Cureton et al 1988).
Em geral ambos os gêneros tem o mesmo % de fibras tipo I e II (Drinkwater,
1984).
Os homens em repouso têm 10x as concentrações de testosterona das mulheres (Wright,
1980). Isto pode explicar os maiores ganhos de hipertrofia muscular nos
homens.
Masculinização
Atualmente há uma preocupação das mulheres quanto a ficarem masculinizadas, mas
não há motivos para se preocupar, uma das razões são os níveis baixos de
hormônios masculinos (10x menos testosterona). No entanto essas diferenças
hormonais não significam que seja impossível para a mulher ganhar massa
muscular. Existem fatores de crescimento como a isoforma autócrina/parácrina do
IGF-1 (tipo insulina), liberados em decorrência do treinamento de força
(musculação) que atuam diretamente na região estimulada, sendo considerado por
diversas pesquisas científicas como um fator essencial do processo de
hipertrofia muscular. O importante é direcionar o treino para que os objetivos
sejam atingidos.
Conclusões
Os níveis de força das mulheres, quando comparados de forma relativa, podem ser
iguais ou maiores que os dos homens principalmente nos membros inferiores, porém
inúmeras são as variáveis (intrínsecas e extrínsecas) que influenciam na
mensuração desses valores.
O índice elevado de ganho de massa muscular é genético, e caso a hipertrofia
ocorra de maneira acentuada (que é difícil) é possível de ser controlado com o
treinamento. O que não pode acontecer é um treinamento com sobrecargas
inferiores a recomendada (exemplo- executar 8 repetições com carga para 15),
pois assim dificilmente os benefícios do treinamento serão otimizados.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COLLIANDER, E.B.,AND TESC, P.A.,1990.
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FLECK, S & KRAEMER, WJ. Fundamentos do Treinamento de Força Muscular. Porto
Alegre, Artmed, 1999.
MCDONAGH, M.J.N E DAVIES, C.T.M (1994). Adaptive response of mammalian skeletal
muscle to exercise with higt loads. Euroean Journal of Applied Physiology.,52,
139-155.
MILLER, A.E.J.; MACDOUGALL,J.D.; TARNOPOLSKY, N.A.; AND SALE, D.G. 1992. Genber
differences in strength and muscle fiber characteristics. European journal
applied physiology. 66:254-62.
SCHANTZ, P., RANDALL-FOX, E., HUTCHISON, W.,TYDEN, A., E ASTRAND, P. O (1983).
Muscle fiber type distribution, muscle cross-sectional area and maximal
voluntary strength in humans. Acta Physiologyca Scandinavica, 117, 219-226.
WELLS, C.L. 1978. The female athlete: Myths and superstitions put to rest. In
Toward an Understanding of Hum Man Performance, ed. A.burke, 37-40. Ithaca, NY;
Movement Press.
WILMORE, J.H. (1974). Alteration in strength, body composition and
anthropometric measurements consequent to 10 week weight training program.
Medicine and Science in Sport, 6, 133-138.
WILMORE, J.H.; & COSTILL, D.L. Fisiologia do Esporte e do Exercício. São Paulo,
Manole, 2002.