Aspectos Clínicos
Descrição - As infecções pelo herpes simples vírus apresentam-se
como desafios, cada vez maiores, para diversas áreas da medicina, por serem dotadas de
várias peculiariedades. Dentre elas, citam-se a capacidade do vírus permanecer em
latência por longos períodos de tempo, podendo sofrer reativação periódica, gerando
doença clínica ou sub-clínica. O herpes simples vírus é comumente associado a lesões
de membranas mucosas e pele, ao redor da cavidade oral (herpes orolabial) e da genitália
(herpes anogenital). O vírus do herpes simples determina quadros variáveis benignos ou
graves. Há dois tipos de vírus: o tipo-1, responsável por infecções na face e tronco,
e o tipo-2, relacionado às infecções na genitália e de transmissão geralmente sexual.
Entretanto, ambos os vírus podem infectar qualquer área da pele ou das mucosas. As
manifestações clínicas são distintas e relacionadas, ao estado imunológico do
hospedeiro. A primo-infecção herpética é, em geral, sub-clínica e passa despercebida;
o indivíduo torna-se portador do vírus sem apresentar sintomas. Em pequena porcentagem
de indivíduos, a infecção é grave e prolongada, perdurando por algumas semanas. Após
a infecção primária, o vírus pode ficar em estado de latência em gânglios de nervos
cranianos ou da medula. Quando reativado por várias causas, o vírus migra através de
nervo periférico, retorna à pele ou mucosa e produz a erupção do herpes simples
recidivante.
Gengivoestomatite herpética primária: é de observação mais comum em
criança, podendo variar de um quadro discreto, com algumas lesões vésico-erosivas e
subfebril, até quadros graves, com erupção vesiculosa, febre alta, adenopatias e
comprometimento do estado geral. Com o rompimento das vesículas, formam-se
exulcerações, a gengiva edemacia-se e a alimentação é dificultada. A faringe pode ser
atingida. Eventualmente, a primo-infecção em crianças ocorre na região genital
(vulvo-vaginite herpética). O quadro dura de 2 a 6 semanas, com tendência à cura, sem
deixar seqüelas.
Herpes recidivante: é de observação mais comum em adultos, surgindo as
lesões em qualquer área da pele ou mucosa, onde ocorreu a inoculação primária. O
aparecimento das lesões é, em geral, precedido de horas ou dias de discreto ardor ou
prurido local; surgem em seguida as lesões características, vesículas agrupadas sobre
base eritematosa, que se tornam pústulas e se ulceram. A localização mais freqüente é
nos lábios, desencadeado por traumas, exposição ao sol, tensão emocional,
menstruação e infecções respiratórias.
Herpes genital: a primo-infecção em adulto surge 5-10 dias após o
contato, em geral pelo Herpes Simples Tipo-2. Vesículas agrupadas dolorosas aparecem no
pênis, vulva ou ânus, sendo o quadro acompanhado de cefaléia, febre e linfadenopatia. O
herpes recidivante genital é freqüente e perdura de 5 a 10 dias.
Ceratoconjuntivite herpética: a primo-infecção pode ser no olho, com vesículas e
erosões na conjuntiva e córnea. Após a regressão, podem surgir as recidivas, que
determinam ulcerações profundas, eventualmente causando cegueira. Herpes simples
neonatal: ocorre quando a parturiente apresenta herpes genital com contaminação do
neonato durante o parto. São vesículas e bolhas que se erosam e são recobertas por
crostas, sendo na maioria dos casos causadas pelo herpes simples tipo-2. O herpes simples
neonatal é grave e muitas vezes fatal. Dos sobreviventes, 50% têm seqüelas
neurológicas ou oculares.
Panarício herpético: infecção herpética recidivante atingindo os
dedos das mãos e dos pés. Na primo-infecção, o quadro inicial é de vesículas que
convalescem, podendo formar uma única bolha, com adenopatia e eventualmente febre. Após
a cura da primo-infecção, ocorrem recidivas locais.
Doença neurológica: o acometimento neurológico é comum, uma vez que o
herpes simples é um vírus neurotrópico. As Complicações do sistema nervoso central
são: meningite, encefalite, radiculopatia, mielite transversa.
Herpes simples em imunodeprimidos: o herpes simples em latência surge freqüentemente
pela imunodepressão, impetigos, micose fungóide, leucemias, mieloma, transplantes e
doenças crônicas. É uma das Complicações mais freqüentes na aids, podendo com maior
freqüência causar encefalite.
Sinonímia - Herpesvírus hominis,
herpevírus tipo 1 e 2.
Aspectos Epidemiológicos
Agente etiológico - O herpes simples é
causado pelo herpesvírus hominus tipo-1. São vírus DNA, da família Herpesviridae.

Herpes simples
Reservatório
- O homem.
Modo de transmissão - Por contato íntimo
com indivíduo transmissor do vírus, a partir de superfície mucosa ou de lesão
infectante. O HSV é rapidamente inativado em temperatura ambiente e após secagem, logo,
a disseminação por aerossóis ou fômites é rara. O vírus ganha acesso através de
escoriações na pele ou de contato direto com a cérvix uterina, uretra, orofaringe ou
conjuntiva. A transmissão assintomática também pode ocorrer, sendo mais comum nos
primeiros 3 meses após a doença primária, quando o Agente etiológico é o HSV-2 e na
ausência de anticorpos contra o HSV-1.
Período de incubação - É de 1 a 26 dias,
em média 8 dias.
Período de transmissibilidade - Variável
de 4 a 12 dias após o aparecimento dos primeiros sintomas. Nas infecções
assintomáticas, orais e genitais, pode haver disseminação transitória do vírus.
Diagnóstico Laboratorial
Diagnóstico - É eminentemente clínico. O laboratório pode auxiliar
nos casos atípicos. O método usualmente utilizado é a citodiagnose de Tzanck. As
técnicas sorológicas também podem ser realizadas, como a imunofluorescência e o teste
enzimático, além do PCR.
Diagnóstico diferencial - A
gengivoestomatite herpética deve ser diferenciada da candidose, aftose, síndrome de
Stevens-Johnson e infecções bacterianas. As ulcerações genitais, com sífilis,
cancróide, linfogranuloma venéreo, candidíase, ulcerações traumáticas. A encefalite
herpética, principalmente no portador de aids, deve ser diferenciada de: meningite
bacteriana, meningoencefalite criptocócica, meningoencefalite tuberculosa e
neurotoxoplasmose.
Gravidez: deve ser considerado o risco de Complicações obstétricas,
particularmente se a primo-infecção ocorrer durante a gravidez. A infecção primária
materna no final da gestação oferece maior risco de infecção noenatal do que o herpes
genital recorrente. As Complicações do herpes na gestação são numerosas. Entretanto,
a transmissão fetal transplacentária é rara, sendo em uma a cada 3.500 gestações. A
infecção do concepto intra-útero, nos primeiros meses da gestação, culmina,
freqüentemente, em aborto. O maior risco de transmissão do vírus ao feto se dará no
momento da passagem desse pelo canal de parto, resultando em, aproximadamente, 50% de
risco de contaminação. Mesmo na forma assintomática, poderá haver a transmissão do
vírus por meio do canal de parto. Recomenda-se, portanto, a realização de cesariana,
toda vez que houver lesões herpéticas ativas. Essa conduta não traz nenhum benefício
quando a bolsa amniótica estiver rota há mais de 4 horas. O tratamento das lesões
herpéticas no decorrer da gestação com o aciclovir poderá ser feito nos casos de
primo-infecção: 200mg, VO, 5 vezes ao dia, durante 10 dias. A infecção herpética
neonatal é grave, exigindo cuidados hospitalares especializados.
Tratamento neonatal:
aciclovir, 5mg/dia, IV, de 8/8 horas, durante 7 dias.
Características
epidemiológicas - Doença de distribuição universal. De 50% a 90% de
adultos têm anticorpos circulantes contra HSV-tipo 1, e 20% a 30% contra HSV-tipo 2.
Vigilância Epidemiológica
Objetivos - Diagnosticar e tratar precocemente todos os casos; prevenir o herpes neonatal.
Notificação - Não é doença de
notificação compulsória nacional.
Medidas de Controle
É infecção de difícil controle em virtude de sua elevada transmissibilidade. Os
contatos devem ser encaminhados à unidade de saúde para detectar a doença precocemente
e para serem orientados quanto as medidas de prevenção de futuros parceiros. Os
preservativos masculinos e femininos previnem a transmissão apenas nas áreas de pele
recobertas pelos mesmos, podendo ainda assim ocorrer transmissões a partir de lesões na
base do pênis, na bolsa escrotal ou em áreas expostas da vulva. A busca de uma vacina
eficaz e segura pode representar o amplo controle dessa doença.
Fonte: Guia Brasileiro de Vigilância Epidemiológica 1998. 1998.
Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde