Benefícios da Atividade Física - Ponto de Vista Benefícios e Riscos da Atividade Física para Diabéticos
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Professor
Vandeir Gonçalves Silva
Graduado pela Universidade de Brasília - UNB - DF
Membro do Gease
Professor de Musculação - Academia Malhart -DF |
A prática de exercícios físicos
proporciona inúmeros benefícios para qualquer ser humano. Particularmente na
diabete, os exercícios possuem qualidades marcantes tanto na prevenção quanto no
tratamento (CANCELLIÉRI 1999). Pacientes com diabetes freqüentemente têm
múltiplos fatores de risco para doenças cardiovasculares, e um estilo de vida
saudável, incluindo uma maior atividade física, é essencial para prevenir e
tratar a diabete (FRONTERA, DAWSON & SLOVIK; 1999). É importante
ressaltar que existem várias formas de se prescrever a atividade física ideal
para o diabético sendo necessário, entretanto, que se conheçam os benefícios e
os possíveis riscos relacionados a esta população.
INTRODUÇÃO
A diabetes se refere a um
conjunto de diversas doenças diferentes. Os tipos mais comuns de diabetes são o
tipo 1, ou imunomediada diabetes melito, e o tipo 2, ou insulinorresistente
diabetes melito. Um terceiro tipo, a diabetes melito gestacional, pode ocorrer
durante a gravidez (AMERICAN DIABETES ASSOCIACION; 2002).
A diabete é uma doença causada
pela hiposecreção de insulina pelas células beta das ilhotas de langerhans
situadas no pâncreas. As células beta se tornam mais suscetíveis aos vírus, o
que favorece o desenvolvimento de anticorpos auto-imunes que destroem estas
células. Este processo pode ocorrer rapidamente ou ao longo de vários meses ou
vários anos. Em outros casos parece haver uma simples tendência hereditária para
a degeneração das células beta, ou para defeitos na regulação da secreção e/ou
ação da insulina (GUYTON & HALL; 1997); (FRONTERA, DAWSON & SLOVIK; 1999).
O que caracteriza o diabete é
um aumento da glicemia de jejum e pós-prandial, que resulta da diminuição da
secreção de insulina absoluta (como no tipo 1), ou relativa (como no tipo 2), da
diminuição da ação da insulina ou de ambas (FRONTERA, DAWSON & SLOVIK; 1999).
Todas as causas de diabetes levam a hiperglicemia, que constitui a
característica básica da doença (SILVEIRA NETO; 2000).
Fatores ambientais contribuem
para a resistência à insulina, e sugere-se que estes fatores devem interagir com
uma predisposição genética para que ocorra o diabete (SILVEIRA NETO; 2000).
Os mais importantes são a obesidade (particularmente a deposição de gordura
intra-abdominal), inatividade física e idade avançada. A inatividade é
considerada o principal fator a explicar o excesso de peso encontrado na
sociedade moderna. Inúmeros estudos têm demonstrado estreita relação entre
consumo calórico, obesidade e inatividade, tanto em crianças quanto em adultos.
A obesidade diminui o número de receptores insulínicos nas células-alvo da
insulina em todo o corpo, fazendo com que a quantidade de insulina disponível
seja menos eficaz na promoção de seus efeitos metabólicos, e a presença de
concentrações elevadas de glicose e/ou ácidos graxos livres podem comprometer
adicionalmente a função das células beta (GUYTON & HALL; 1997); (FRONTERA,
DAWSON & SLOVIK; 1999); (SILVEIRA NETO; 2000). A hiperfagia por si
só, é responsável por alguns níveis de resistência à insulina, como se pode
comprovar pelo declínio nos níveis de glicose plasmática ocorrido nos pacientes
diabéticos do tipo 2 que se submetem a uma dieta de restrição calórica (SILVEIRA
NETO; 2000).
No diabete melito, a maioria
das características patológicas pode ser atribuída a um dos três efeitos
principais da falta de insulina, a saber: (1) menor utilização de glicose pelas
células corporais com o conseqüente aumento da concentração sanguínea de
glicose; (2) depleção de proteínas nos tecidos corporais; e (3) aumento
acentuado da mobilização de gordura das áreas de armazenamento da gordura,
produzindo metabolismo lipídico anormal e também o depósito de lipídios nas
paredes vasculares (GUYTON & HALL; 1997).
Na ausência de insulina ocorre
a hidrólise dos triglicérides armazenados, liberando para o sangue circulante
grande quantidade de ácidos graxos e glicerol, conseqüentemente a concentração
plasmática de ácidos graxos livres começa a se elevar em alguns minutos (hiperlipidemia).
O excesso de ácidos graxos no plasma promove a conversão pelo fígado de alguns
ácidos graxos em fosfolipídio e colesterol, que leva ao rápido desenvolvimento
de aterosclerose, arteriosclerose, cardiopatia coronária e lesões
microcirculatórias, causando freqüentemente ataques cardíacos, acidentes
vasculares cerebrais e outros acidentes vasculares em pessoas com diabetes (GUYTON
& HALL; 1997); (SILVEIRA NETO; 2000).
COMPLICAÇÕES RELACIONADAS AO DIABETE
Os pacientes portadores de
diabetes representam um grupo susceptível a inúmeras complicações tanto crônicas
quanto agudas, acarretando também na maioria dos casos problemas de repercussão
psicossocial. A evolução do diabetes rumo às complicações crônicas está
inteiramente relacionada com o mau controle da doença e, portanto, com a
manutenção de níveis persistentemente elevados de glicemia; sendo assim, o
controle rigoroso dos níveis de glicose no sangue é a principal estratégia para
a prevenção das complicações do diabetes (SILVEIRA NETO; 2000).
A principal morbidade da
diabete está relacionada com as complicações em longo prazo da hiperglicemia
crônica. Estas possíveis complicações podem ser divididas em complicações
microvasculares como retinopatia (perda potencial da visão), falência renal (nefropatia),
dano aos nervos periféricos (neuropatia), e danos ao sistema nervoso autonômico
(neuropatia autonômica), e complicações macrovasculares como doenças
cardiovasculares ateroscleróticas, vascular periférica e cerebrovascular, além
de constantemente estarem associadas a outros fatores de risco ateroescleróticos
mesmo em indivíduos não diabéticos como hipertensão arterial, hiperlipdemia,
obesidade e resistência à insulina (FRONTERA, DAWSON & SLOVIK; 1999).
Pessoas com diabete tipo 2
desenvolvem as mesmas complicações em longo prazo daquelas com diabete tipo 1
(incluindo retinopatia, nefropatia, neuropatia e doença macrovascular), e
precisam ser triadas para esses problemas antes de iniciar um programa de
exercícios (FRONTERA, DAWSON & SLOVIK; 1999).
Segundo SILVEIRA NETO, os
principais fatores de risco para o desenvolvimento de complicações
macrovasculares e microvasculares são a hipertensão, a hiperlipidemia, a
hiperglicemia, o sedentarismo e o tabagismo. Em todos estes fatores o professor
de educação física pode interagir direta e/ou indiretamente através da mudança
de comportamento de seu aluno, usando para isso a atividade física.
BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA
Desde 1922 vários autores
verificaram a interação da insulina com a atividade física e os benefícios no
tratamento do diabete. A partir de então a tríade dieta, medicamentos (quando
necessário), e exercício, fundamentados em um processo educacional, formam o
princípio do tratamento desta doença (SILVEIRA NETO; 2000).
Exercícios são a parte mais
divertida da terapia do diabete. Pense no quando "divertido" é espetar a si
mesmo com uma agulha ou uma lanceta, tomar pílulas, ou ter que mudar sua dieta,
provavelmente suprimindo algumas das suas comidas favoritas. Compare isto com um
igualmente importante para sua saúde jogo de tênis, ou uma noite dançante, um
passeio de bicicleta, uma caminhada, ou uma refrescante natação. Absolutamente
sem discussão (GRAHAM; 1995). Toda e qualquer atividade física pode ser
de grande valia para o diabético, sendo necessário sempre se levar em
consideração o atual quadro de saúde em que o aluno se encontra.
A maioria dos efeitos diretos
da atividade física ocorre porque o exercício normaliza a glicose sanguínea,
diminuindo a resistência de insulina e melhorando a sensibilidade a ela. Vários
estudos têm demonstrado que o treinamento de exercício pode aumentar a ação da
insulina ou diminuir a resistência à insulina, especialmente entre pessoas com
alto risco para diabete ou com hiperinsulinemia. Outros estudos mostram que
indivíduos fisicamente ativos têm menos probabilidade de desenvolver diabete do
que indivíduos fisicamente inativos. O efeito da atividade física parece ser
devido à adaptação metabólica do músculo esquelético (aumento da densidade
capilar; maior capacidade oxitativa), ou a outras adaptações ao treinamento como
um conteúdo aumentado de transportadores de glicose GLUT4 (FRONTERA, DAWSON &
SLOVIK; 1999). Como conseqüência, a captação de glicose pelo músculo é
incrementada, independentemente de alterações na concentração de insulina
circulante (SILVEIRA NETO; 2000).
Em adição à redução aguda da
glicemia e ao aumento da sensibilidade à insulina, o exercício regular melhora
vários dos fatores de risco reconhecidos de doenças cardiovasculares, como
melhora do perfil lipídico (diminuição do LDL, aumento do HDL e diminuição do
triglicérides) e da hipertensão, e indivíduos diabéticos têm um maior risco de
desenvolvimento de doenças cardiovasculares (FRONTERA, DAWSON & SLOVIK; 1999);
(CANCELLIÉRI 1999). A hipertensão está associada com um aumento da
incidência e taxa de progressão de retinopatia diabética e neuropatia e,
portanto, deve ser tratada de forma mais agressiva. É genericamente aconselhável
que os pacientes que apresentem doenças microvasculares dos olhos e rins, já
estabelecidas, não participem de exercícios que resultem em um aumento da
pressão sistólica acima de 180 a 200 mmhg (SILVEIRA NETO; 2000).
A prática regular de exercícios
físicos pode acarretar uma diminuição da dosagem de insulina, e sua importância
é fundamental nas terapias onde se objetiva uma menor dosagem de insulina a ser
administrada pelo paciente insulino-dependente (SILVEIRA NETO; 2000).
Os benefícios cardiovasculares
e metabólicos do exercício são sustentados somente como resultado da soma dos
efeitos das sessões de treinamento ou como resultado de mudanças, em longo
prazo, na composição corporal (SILVEIRA NETO; 2000), e outro grande
benefício da atividade física regular é seu efeito sobre a composição corporal,
através do aumento do gasto de energia auxiliando a redução de peso, o aumento
da perda de gordura e a preservação da massa magra. Aproximadamente 60% das
pessoas com diabetes do tipo 2 são obesas no momento do diagnóstico.
Provavelmente a distribuição central de gordura parece ser fator de risco
primário adicional para o desenvolvimento do diabete tipo 2, uma vez que a
adiposidade na área abdominal ao contrário da periférica eleva a probabilidade
de que indivíduos desenvolvam resistência à insulina. A atividade física parece
prevenir o diabete tipo 2 não apenas diminuindo a adiposidade, mas também
afetando a resistência à insulina e a tolerância à glicose (FRONTERA, DAWSON
& SLOVIK; 1999).
SILVEIRA NETO relata em sua
obra sobre o constante estresse psicológico pelo qual os recém descobertos
diabéticos passam, e cita até mesmo como experiência pessoal (o autor é
diabético tipo 1 desde os quatorze anos) o quanto à atividade física pode ser
benéfica para o controle desde tipo de estresse; estresse este que pode ter
conseqüências bastante negativas para o controle glicêmico. Parece que o
estresse psicossocial exerce um efeito direto psicossomático nos mecanismos
reguladores neuroendócrinos, que por sua vez, influenciam o controle metabólico.
A prática de atividades física promove benefícios fisiológicos e psicológicos,
sendo o aspecto de lazer e entretenimento proporcionado pela prática de
atividades físicas e esportivas, altamente desejável.
Segundo o mesmo autor, os parâmetros
psicológicos passíveis de mudança com o exercício físico podem ser assim
visualizados:
DIMENSÕES |
MUDANÇAS |
Depressão |
Diminui |
Bem-estar |
Aumenta |
Atitude positiva em relação
ao trabalho |
Aumenta |
Autoconfiança |
Aumenta |
Autoestima |
Aumenta |
RISCOS DA ATIVIDADE FÍSICA
No entanto o exercício também
pode piorar várias das complicações a longo prazo do diabete. Em adultos, o
exercício pode precipitar angina de peito, infarto do miocárdio, arritmias
cardíacas ou morte súbita se houver doença arterial coronariana subjacente. Para
se aumentar à segurança, deve ser feita uma triagem cuidadosa em adultos para as
complicações em longo prazo do diabete (retinopatia, nefropatia, neuropatia
periférica, neuropatia autonômica), antes de prescrever um programa de exercício
de intensidade moderada a vigorosa (FRONTERA, DAWSON & SLOVIK; 1999).
A atividade também deve levar
em consideração o estado do aluno no momento do início da mesma. Diante de um
quadro de glicemia superior a 250 mg/dl, por exemplo, (FRONTERA, DAWSON &
SLOVIK; 1999), sugere-se a medição de cetona na urina. O quadro de cetonúria
é potencialmente perigoso para o diabético e o exercício acentuará este quadro.
Esta situação indica pouca insulina no organismo, com conseqüente diminuição da
utilização de glicose como fonte de energia e incremento do metabolismo das
gorduras, acarretando elevação dos lipídios e de seus subprodutos no sangue (CANCELLIÉRI
1999). Com este exemplo que não é raro, se percebe a importância de um
controle glicêmico constante, que pode ser feito de maneira relativamente fácil
através de um glicosímetro. Através deste recurso o diabético pode fazer ele
mesmo o exame de sua glicemia em casa, ou na hora em que precisar e sem qualquer
dificuldade, sendo os resultados bastante precisos e confiáveis. Sem um controle
adequado da glicemia, o diabético fatalmente tenderá a evoluir para as temíveis
complicações crônicas da doença (SILVEIRA NETO; 2000).
Lesões das articulações e dos tecidos moles
podem ocorrer quando os pacientes com neuropatia periférica realizam exercícios
vigorosos (FRONTERA, DAWSON & SLOVIK; 1999).
O exercício agudo provoca um
aumento da sensibilidade à insulina e aumento no metabolismo da glicose, que
persiste por várias horas após o exercício, podendo ocorrer assim hipoglicemia
durante ou após o exercício. De outro lado o exercício de curta duração e grande
intensidade está associado normalmente com um aumento transitório nos níveis de
glicemia, podendo ocorrer um quadro de hiperglicemia (FRONTERA, DAWSON &
SLOVIK; 1999). A hiperglicemia se for grave o suficiente pode produzir lesão
imediata e irreversível no sistema nervoso central. A glicose é o único
nutriente capaz de ser utilizado pelo cérebro, pela retina e pelo
epitélio germinativo das gônadas em quantidade suficiente para supri-lo com a
energia necessária (SILVEIRA NETO; 2000), sendo assim um estado de
hipoglicemia severa pode ser potencialmente perigoso para o indivíduo.
Outro grande fator de risco em
potencial relacionado ao diabete do tipo 2, é que grande parte de seus
portadores não sabe que carrega esta enfermidade. Ás vezes a doença pode não
apresentar sintomas e continuar evoluindo sem que se dê conta disto, e o diabete
só será diagnosticado quando as complicações crônicas já se houverem estalado (SILVEIRA
NETO; 2000).
Referência Bibliográfica
CANCELLIÉRI, Cláudio; diabetes & atividade
física 1999.
FRONTERA, Walter R., DAWSON David M. & SLOVIK;
exercício físico e reabilitação 157:158; 202:214, 1999.
GRAHAM, Cláudia; the diabetes sports and
exercise book, 1995.
Guia completo sobre diabetes da American
Diabetes Association 2002.
GUYTON, Artur c. & HALL, John e; fisiologia
humana e mecanismo das doenças 557:564, 1997.
SILVEIRA NETO, Eduardo; atividade física
para diabéticos 2000.
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